quinta-feira, 9 de junho de 2011

Calendário Venatório. Portaria 147/2011.

Sou um leitor assíduo de notícias relacionadas com a Natureza e como óbviamente não poderia deixar de ser, acompanhante assíduo também, de tudo o que está relacionado com a Associação Quercus, desde campanhas, notícias, actividades e muito mais, Associação esta que até publicito neste blogue.
Um artigo muito recente publicado no site da Associação, vem pôr a nú a triste realidade daquilo que será o calendário venatório para a próxima época de caça que em breve estará de novo aberta (deverei dizer próximas épocas?). Não pretendo copiar para aqui o que vem nesse artigo, para isso mais facilmente aconselho a consulta do mesmo no site da Quercus mas, apenas tecer considerações acerca da Portaria 147/2011 recentemente publicada, que vem regulamentar as actividades de caça, o exercício da mesma, espécies cinegéticas, limites de abate, etc, etc.

Em Lanheses existe uma Associação de Caçadores, à qual em nada me oponho, mesmo não sendo um amante da caça, antes pelo contrário um forte opositor. Não me compete estar a criticar o caçador, pelo que me abstenho disso, mas compete-me como amante da Natureza e da Veiga em Lanheses, alertar para o facto de que a Portaria citada anteriormente é no mínimo injustíssima, carecendo de um estudo sério e credível, com vista à preservação e correcto equilibrio dos ecossistemas e sua biodiversidade, sob influência da mão humana e que muito vai influenciar a gestão negativa das espécies cinegéticas que ocorrem em Lanheses. Passo a explicar:

Primeiramente, esta Portaria foi aprovada por um Governo de Gestão e não o deveria ser numa matéria tão sensível. Representa um forte retrocesso na gestão sustentável da caça, apresenta até erros gravosos e arrisca a ilegalidade atentando contra a directiva Europeia Aves, que regulamenta a conservação da Biodiversidade e a promoção da conservação da Natureza!

Em segundo e não menos grave a Portaria é publicada com vista à regulamentação por um período de três anos, ou seja o triénio de 2011 a 2014, abandonando-se a sua regulamentação anual, o que está errado pois, a caça está dependente dos ciclos periódicos naturais que podem alterar significativamente por variadas causas, naturais ou humanas; um bom exemplo são os fogos florestais que ultimamente têm flagelado os nosssos Montes e Serras. Acho por isso impróprio, que se fixe um periodo tão longo!

Em terceiro e absolutamente incrível (pelo menos para mim), como é possível incluir no rol de espécies passíveis de serem caçadas, com o limite de 40 por dia e por caçador (que limite), o nosso conhecido Melro? Até compreendo que certas espécies quando não controladas possam passar de uma agradável visão natural a rápidamente uma praga, que destrói culturas, hortas, quintais, etc, etc. como será o caso do Melro (tenho ouvido muita gente a queixar-se da espécie em questão) e da Gralha Preta, tendendo a ser controladas. Mas, é preciso analisar a questão (quanto ao Melro) como deve ser analisada. O Melro, como espécie cinegética, é um perigo em matéria de segurança para todos nós pois, este ocorre fundamentalmente em zonas habitadas, nas povoações e muito próximas do casario em zonas rurais limitrofes com as povoações, caso da nossa Veiga. O caçador sabe que por lei, não pode caçar a menos de 250mts de uma casa (deveria ser a um km)! Estou a ver o declínio da espécie que ocorre com muita frequência na Veiga dado o nrº de exemplares passíveis de serem abatidos por caçador! Em breve não se ouvirá o seu cantarolar belo, agudo assim como o seu esvoaçar frenético por entre os arvoredos ou em campo aberto. Já para não falar da Gralha Preta, que se pode confundir com o Corvo, espécie ameaçada e já rara em muitos locais do País. Apesar de em Lanheses não ocorrerem Corvos, em muitas outras zonas se puderá confundir este com a Gralha, já estou a ver o resultado...em breve também me dará a ideia que aquele estridente - Cráaaaaa - da Gralha Preta se deixará de ouvir junto aos arvoredos do Olho!

Em quarto e não menos importante a moratória de permitir a caça à Rola Comum apartir de 15 de Agosto, quando ainda muitas posturas mais tardias estão a ocorrer ou com muitos juvenis estando no ninho. Esta espécie está em manifesto declínio e na nossa Veiga não há excepção, eu próprio nas minha deambulações diárias por lá, já me apercebi que é mais fácil avistar vinte Gaios (espécie bastante furtiva e esquiva) do que três Rolas a voar! A caça à Rola comum deveria ser impedida por um periodo fixo de modo a reaver uma percentagem segura de nrº de individuos e evitar um tão evidente declínio da espécie! Para complicar, começará mais cedo...

Em quinto e por ultimo, as infestações das nossas Aves pela contaminação por chumbo, chamada Saturnismo. As Aves ao ingerirem pequenos grãos de areia que ajudam á digestão, ingerem também os grãos de chumbo que são deixados na Veiga por serem utilizados nos cartuchos de caça (que também abundam pelos campos da mesma) acabando por sofrer danos na sua saúde e muitas vindo até a morrer contaminadas. Agora por mais três anos a contaminação continuará em todas as zonas que não sejam protegidas. Em Portugal gradualmente se tem proíbido e muito bem, a utilização deste género de caça, junto às zonas húmidas e protegidas, (sabe-se o efeito que tem o chumbo na água), mas dever-se-ia prolongar esta proibição a todas as outras zonas!

Esta Portaria é um atentado à Natureza e sua preservação! Promove a gestão danosa dos recursos Naturais!

Uma imagem que tenderá a ser rara futuramente...

Segundo o que sei, a Quercus apelará às altas instâncias, de modo a que esta Portaria seja revogada e substíuida por outra menos injusta e baseada em estudos efectivos, que respeitem e promovam a conservação das espécies e livre fomento da Biodiversidade.

Não critico aqui a prática da caça (apesar de não lhe ser favorável em nada) porque cada um é livre de escolher os passatempos que mais gostará e, mais a mais passatempos são como os gostos, não se discutem. Posso no entanto criticar o facto de às Quintas feiras, Domingos e Feriados em época venatória, ser impossível passear pela nossa Veiga tal o som estridente das armas a disparar e o aspecto segurança não estar na sua totalidade preenchido.


Era tempo de na Nossa Veiga, ser proíbido caçar, dada a cercania às habitações e muito mais agora que a Ecovia se irá prolongar! Qualquer dia acontecerá a muitos que praticam um desporto saudável na Ecovia, o que já me aconteceu a mim, zarpar rápidamente da Veiga mais os meus cães com muito receio de levar um balázio vindo sabe-se lá de onde, tal a proximidade de armas, caçadores e eu, que simplesmente gosta de passear pelo campo apreciando a Natureza, as árvores, a passarada e o Rio! Para não mencionar situações mais trágicas que possam vir a ocorrer...e depois quem apurará responsabilidades num País como o nosso onde a justiça funciona como se sabe...lentinha, lentinha...

Como será com o prolongamento da Ecovia?...adivinho uma grande incompatibilidade entre Caça e Ecovia, que urgerá ser resolvida atempadamente!

Entretanto e a ser verdade esta Portaria, vou apreciar uns Melros para o Rio porque em breve os mesmos já lá não andarão!!!


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