quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Gigantones e Cabeçudos.

Na ressaca das festividades que ocorreram em Viana do Castelo, é inevitável, como profundo amante e admirador de tal, que faça neste espaço, uma breve alusão, a um dos números mais carismáticos do programa que compõe as mesmas, a Revista de Gigantones e Cabeçudos. Desde menino me habituei a conviver com a presença na Romaria das Romarias daqueles bonecos enormes, por vezes assustadores, com as suas carantonhas sarapintadas, algumas delas bem bizarras até!
É uma das mais eloquentes tradições do cartaz da festividade e para mim (desculpem a franqueza) Viana são os Gigantones, os Cabeçudos e os bombos...é óbvio que Viana é tudo: é amor, é ouro, é devoção, é traje, é folclore, é luz, é fogo...mas para mim, desde muito pequeno quando o meu Pai me levava pela mão, ver os Gigantones era o mais fantástico que ele me podia proporcionar! Ficava fascinado a olhar aqueles monstros a rodopiar ao som dos bombos, muito solenemente...

Eis um pequeno video onde se podem ver acompanhados pelo troar dos bombos, os fabulosos bonecos em acção.


Com o passar dos anos a paixão não esmoreceu, antes pelo contrário, aumentou e, chegou o dia em que aprendi a fazê-los, na associação Meadelense S.E.R./ACEP (bons velhos tempos), aprendendo também a manuseá-los!

O Gigantone segundo reza a história, é um boneco, como o próprio nome indica gigante, já utilizado pelos antigos Celtas, para personificar a expulsão de demónios e outros seres maléficos, que atarantavam os espiritos de então.

Aqui, o Gigantone é um boneco com três a quatro metros de altura que representa uma figura humana. Mas pode representar muitas outras coisas, animais até, embora o normal seja o representar da figura humana grotescamente caricaturizada. O corpo do boneco é composto por uma estrutura metálica em arame de aço  normalmente de diâmetro 25mm, feita de modo a que possa ser manuseado e "vestido" pelo seu interior por uma pessoa, assentando em cima dos ombros desta por duas traves horizontais forradas com esponjas de grande grossura de modo a não magoar os ombros e facilitar a força que é preciso dispender para manusear o boneco devidamente. Estas traves, normalmente em madeira, estão ligadas à restante estrutura metálica e também na vertical dispõe de mais duas pequenas traves em  madeira, estas na vertical, para que a pessoa que manuseia o boneco o possa segurar com as mãos correctamente e fazer com que o boneco rode; movimento tão característico dos Gigantones. No cimo da estrutura é soldada uma chapa metálica com espigão em tubo metálico também, onde assenta a cabeça do boneco. Com experiência nestas lides, posso afirmar a título de curiosidade que em dias de muito vento é dificílimo o correcto manuseamento do Gigantone! A cabeça é feita em pasta de papel, que depois de seca e aplicada na estrutura que a compõe, metálica ou em papel, é pintada com tinta acrílica. Depois de seca, está pronta a ser utilizada. Os braços podem ser soltos ou presos à estrutura metálica. O seu peso pode variar em função dos materiais utilizados mas regra geral anda sempre à volta dos vinte/trinta quilos! Daí advém a dificuldade em manusear estes gigantes associada ao seu tamanho descomunal e que lhes dá aquela amplitude de movimentos limitados, tão característicos! Um movimento tão solene! São normalmente usados em grupos ou pares, nunca sós, representando o parolo, o doutor, a senhora, ou então casais tipicos, como o "Manel e a Maria" que vão para a Romaria, acompanhados de seus Pais e Sogros (os bonecos com cabelos brancos, por exemplo) precedidos pelo séquito de filhos, os não menos famosos Cabeçudos, figuras mais simples, com cabeças anormalmente grandes, envergadas por pessoas vestidas com roupas garridas. São estes, com as suas danças frenéticas, que transmitem à assistência a alegria e folia da festa pelo que por vezes as suas "caras" representem até demónios e outros seres.

Há já muitos séculos, estes bonecos são utilizados em cortejos processionais ou etnográficos e na zona de Viana (carece de fontes), em busca de mais um número para o cartaz das festas, em pleno século XIX, quando ainda se "montava" o figurino da Romaria; aquando de uma visita à Galiza, um Vianense assistiu incrédulo ao frenesim que estes Gigantes proporcionavam junto do povo assistente, adoptando então de lá para cá, esse costume! O costume virou moda e de moda passou a tradição e a um dos números mais carismáticos e ruidosos do cartaz da Romaria da Senhora d´Agonia!

Esta tradição do Gigantone, boneco enorme e animado, vingou (felizmente) um pouco por todo o nosso País e não há festa, ou romaria, ou corso carnavalesco em que estes "bons" gigantes não apareçam. Um dos encontros de Gigantones mais marcantes no nosso País acontece na cidade de Braga por alturas do S. João, onde se realiza o encontro anual de Gigantones e se podem observar algumas dezenas deles dançando solenemente ao som dos bombos tocados pelos grupos de Zés Pereiras. Aconselho, a quem ainda não o viu, a ver pois, é um espectáculo composto por muito som, côr e alegria. Em Espanha as principais cidades ou províncias que utilizam nas suas romarias ou festas anuais o Gigantone, são a já referida e nossa vizinha Galiza, toda a zona de Burgos no norte (uma das mais importantes em Espanha, onde este fenómeno é muitíssimo popular) e Pamplona, famosa pelas festas de S.Firmino e as largadas de touros.




Entretanto, se alguém se interessar por este tema tão tipico, tão nosso e queira aprender, terei todo o gosto em transmitir os meus conhecimentos, naquilo que é necessário para a elaboração de um Gigantone. Não se acanhem, é só dizê-lo! Até que seria fenomenal em Lanheses aparecer um grupo de malta interessada e começar a construir Gigantones e Cabeçudos! E porque não? Já vi um excelente grupo de "jovens Lanhesenses entradotes na idade" a construir e muito bem, marionetas, que tal Gigantones?

Em Viana os Gigantones saíram à rua novamente e pelo que sei, transmitido-me por familiares (pela primeira vez em trinta e seis anos de vida, não estive presente) voltou a ser um dos grandes números da Romaria d´Agonia...ou...o grande número, como não poderia deixar de ser!

Viana são...os Gigantones...

2 comentários:

  1. Boa tarde
    Não sou de lanheses, mas temos um grupo de percussão e gostariamos de adquirir ou construir um gigantone e não sabemos como. Podem nos explicar onde arranjar um ou como construir um?

    Obrigado

    João Moreira

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    1. O melhor seria construir um. Se necessitarem ajuda é só dizerem.

      Cumprimentos

      Sérgio Moreira

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