sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Um rio só para mim...

Dezanove horas e treze minutos, fim de tarde ventoso na veiga!

Começando o dia bem cedinho, desiludo-me a ler as notícias de quatro jornais (só desgraças, catástrofes e tristezas), à tarde na feira, insuportável a gritaria da maralha que sai da escola e espera o autocarro para de novo os levar a casa, de volta ao reino das proibições, (salve-se a agradável conversa com casal Lanhesense que muito prezo e bem sabem conversar); a maralha continua a gritaria frenética que iniciou e dali fujo, fujo em direcção ao rio, em direcção a Sul.

Um vento forte de quadrante noroeste varre a margem do rio, em Lanheses! Não se vê viva alma; só eu, o vento (muito vento), os meus peludos, as ervas, as urzes, as árvores e tão pouco, qualquer sombra de algum animal que passe de fronte ao meu olhar. 

Tenho um rio só para mim...

Caminhando pela veiga, cantarolando "Born Free" de Matt Monro (como no vídeo postado em baixo por isso aconselho a que ponham o vídeo a tocar e ao mesmo tempo a ler estas linhas); corpo abanado fortemente pela brisa que também espanta o pó do caminho em remoinhos sem fim, que abana incessantemente as folhagens e ramos das árvores, olhando em redor sinto-me só, mas, sinto-me bem...reconfortado...ao olhar os campos e não ver ninguém, ao esquecer a minha humanidade e todas as tristes condicionantes a ela adjacentes, ver somente a erva inclinada pelo movimento do vendaval outonal, que por estas paragens se abateu, e, sabendo que mesmo acabado de se pôr, o Sol, esse amanhã, acordará de novo para todos nós. Entretanto, vou gozando a calma do momento, abro os braços e sinto o vento, nas faces, no corpo e esqueço tudo! Aprecio o taciturno caminho que se mostra em frente a mim regado pela falta de luz solar e com felicidade depreendo que ninguém me aparecerá em contra mão, o estado do tempo isso impede e sozinho, perdido em pensamentos e divagações, chego a sentir-me o Rei deste lugar, fantástico, lindo, sereno e belo!

Agacho-me junto ao "meu" Carvalho (sim, já o considero meu, qual é o mal) falo com ele todos os dias, por baixo dele, sentado, na erva fina e ainda verde, fumo um cigarro e fito o arvoredo junto ao "Olho" na esperança de visualizar mais um Milhano, um Gaio ou uma Gralha perdidos entre a ramagem dos Amieiros e dos Carvalhos que ali moram...nada...somente o vendaval, eu e o fumo do meu cigarro...


continuo a ter um rio, só para mim...


E de súbito, olho por mim abaixo, calças amarelas à palhaço (vindas do Nepal, esse paraíso na Ásia), casaco azul de malha grosseira, chinelo de meter o dedo, que ridículo...que bem? Não sei, não o sei dizer, apenas sei que sou eu...sou assim...e assim gosto de mim, da minha maneira aparvalhada (se calhar inocente) de fitar a veiga, o rio, a Natureza, onde me sinto bem, aconchegado, qual cobertor estirado em leito de palha fresca e fundamentalmente, gosto, da minha maneira de ser sincera, quando fito estes campos vazios de gente! Sou o que sou e aqui esqueço quem sou, para deleite dos meus olhos e do meu pensar, dos meus sentidos e do meu sonhar!

Continuo a ter um rio só para mim...

Agora, os meus peludos, deitam-se ao meu lado e juntos, os três, contemplamos castelos na areia, dragões que nos vêm visitar, fadas que nos vêm encantar, cavaleiros nos seus corceis que nos vêm salvar...de quê...de nada...da erva, das árvores, da veiga...???? Ahhhhh...desses...não tenho receio, esses não temo...esses são os amigos de todos os dias, com quem converso e partilho as minhas mágoas...reina o silêncio e a maralha, a esta hora, já está em casa de certeza!

Fico com o rio só para mim... 




PS - É de facto fenomenal passear na veiga (por vezes só), ao final da tarde, sem luz solar e absorver a fantástica acalmia com que a Natureza nos brinda! Aconselho...EXPERIMENTEM o CREPÚSCULO e deixem a imaginação trabalhar, enquanto o fazem...


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