segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Morrer só!

Uma das coisas boas que se tem quando temos um blogue, que é quase como termos um diário, ou uma espécie do mesmo, mas em versão moderna; é precisamente podermos escrever sobre as mais variadíssimas matérias que nos venham à lembrança, tentando seguir sempre os limites da racionalidade e do bom gosto (há quem não se importe com isso, eu importo-me) e dar azo a pensamentos, considerações e debates. É delicioso pôr as pessoas a discutir as mais variadas matérias!

Um dos temas que nos últimos dias tem ferido a minha sensibilidade enquanto pessoa, que sabe que, se a lei da vida se concretizar na sua plenitude, chegará a velha; é o facto de muito repetidamente nos chegarem a um ritmo preocupante, notícias pela comunicação social, do elevado número de idosos que têm vindo a falecer sós e "abandonados" nos seus lares.

É certo que muitos têm mau feitio! Não querem aderir a uma instituição que trate deles, ou até não possam por motivos económicos fazê-lo! Outros, e esses é que me preocupam, são literalmente abandonados pelos familiares mais próximos, alguns com filhos (era incapaz de o fazer aos meus Pais) que pura e simplesmente pelos mais variados motivos, sendo um deles e se calhar o maior, puro egoísmo (a nossa vida e os nossos problemas são mais importantes que o dos outros), desligam-se totalmente dos seus familiares! Dos seus idosos!

É preciso entender que, se estamos cá, é porque alguém fez alguma coisa por isso, alguém já trabalhou anos a fio para que vida em nós vingasse com extremo sucesso e que enquanto éramos uns putos irresponsáveis, um género de inútil que mais cedo ou mais tarde a sociedade lhe exigirá o pagamento da factura pelos anos de inactividade, outros, os que hoje são velhos, faziam um país e trabalhavam para isso e por nós!

Tremenda demonstração da célebre ingratidão humana!

Tenho pena que num país inserido na Europa, o continente do Iluminismo e da Razão, o Século das Luzes, de Voltaire (não gosto nada deste, um presunçoso), de Kant, Hegel e Rousseau (o meu favorito dos Iluministas); nos cheguem a um ritmo preocupante notícias de idosos encontrados mortos em casa, alguns cadáveres há já muitos dias e até semanas, ou como aquela senhora em Lisboa...anos...isto a mim assombra-me e deixa-me preocupado. Eu que até nem tenho filhos e quis a natureza que não os venha a ter, deixa-me apreensivo, imaginar como será a minha vida de "velho" daqui a uns anos! Quem me amparará!?! Quem me mimará quando me sentir carente!?! Quem me levará ao Hospital quando o corpo pedir tratamentos!?! Quem...???  A companheira de vida estará comigo e claro mimar-me-à (acho eu), mas...e se ela me falta...ou pelo contrário, se lhe falto eu a ela? Como será!

Estas novas gerações não mostram respeito por nada nem por ninguém, pautam-se pela falta de valores e por vezes de inteligência e aprendem somente a viver em stress movidos pelo dinheiro. Coitados, é o que lhes ensinam hoje em dia. Aliás, os governantes de hoje (não falo somente do governo vigente) também ajudam muito a isso, pois não pautam as suas governações pelo incutir de respeito e admiração pelos mais velhos, basta ver que Portugal é um País que nem a sua história sabe respeitar! E que futuro será o daqueles que nada aprendem com o seu passado??? Que futuro!!!

Sendo ainda por cima, Portugal, um país de gerações envelhecidas...


Por tudo isto e perplexo me pergunto o que será do meu futuro como velho neste país? Haja nessa altura alguém que me admire e acarinhe para que possa pelo menos morrer em paz e nunca, nunca, morrer só! A solidão, quando acometida pelo próprio, é a arma dos incautos e incapazes, porque a verdade é só uma; precisamos todos uns dos outros, desde o médico ao pedreiro, do professor ao sapateiro e certamente será de uma brutalidade sem par, morrer só e abandonado! A solidão por abandono, é pura crueldade!

Eu, tendo noção que não quero ficar só, quero alguém que me ampare em velho...antes de se me fecharem os olhos para sempre e adormecer...




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