domingo, 4 de março de 2012

Águia-de-asa-redonda.

Num dos painéis exemplificativos das espécies animais que abundam e ocorrem na veiga de Lanheses e que estão colocados nas paredes em madeira do Posto de Observação Ambiental, está a fotografia de uma espécie de ave que estava designada como Milhano (Milvus milvus).

Entretanto com o passar dos tempos já nada se vê porque naquele local só tenho visto gentinha aparvalhada (muito jovem), abundam no chão as embalagens vazias de preservativos, muito lixo e os painéis estão totalmente destruídos! Esta é a escola que temos nos dias de hoje, que em vez de formar gente séria e competente, cria monstrinhos sem um pingo de respeito pelos seus semelhantes, assim como pautados pela falta de inteligência e resguardados por um sentimento de impunidade que reina nas sociedades capitalistas actuais e que lhes é característica, salvando claro as devidas excepções, vão destruindo tudo aquilo que de educativo encontram pelo seu caminho! Perdoem-me este desabafo, aqueles que não se revêem (certamente) neste quadro que agora aqui nestas linhas acabei de pintar!

Bom, falava no princípio do post do Milhano como espécie residente na veiga de Lanheses. Confesso que nunca concordei com esta explicação/identificação e sempre a pus em causa! Porquê? Porque o Milhano, ou mais concretamente como deve ser designado, Milhafre-real (Milvus milvus) é raríssimo de ocorrer em Portugal, estando a percentagem de casais reprodutores em declínio acentuado e ocorre hoje em dia somente pela faixa continental interior do nosso país, nomeadamente em Trás-os-Montes, na Beira-Interior e Alentejo.

Tenho avistado por muitas vezes na veiga, dois exemplares (pelo menos) desta suposta ave, planando no céu em busca de alimento com o seu voo calmo e planado e nunca lhes vi reconhecidas as carcterísticas pelas quais o Milhano é reconhecido, sendo que uma delas é de fácil identificação. A cabeça deste milhafre é totalmente cinzenta  assim como o bico, destacando-se da restante cor castanha-clara do seu corpo, assim como mais importante, o seu canto ser totalmente diferente daquilo que tenho ouvido nos bosques da veiga, como exemplo e onde fui consultar, para me resguardar com uma boa base de elementos de modo a poder sustentar a afirmação que vou fazer aqui neste post.

Ora, aqui há dias percorrendo a veiga, saiu-me a lotaria! Estático, num ramo de uma árvore, à vista de todos, estava um exemplar da tal espécie e ainda surpreso com semelhante dádiva com que a Natureza me brindava, deixei cair a bicicleta e tentei fotografar a ave. Mal sentiu os disparos da Fuji, pôs-se em fuga mas consegui uma imagem mais ao menos nítida, ou que pelo menos, permite analisar a sua fisionomia e assim identificá-la. Isto aliado ao facto de o ter por muitas vezes e nesse dia também, ouvido cantar.
Vim para casa, enterrei-me no computador e pesquisei inúmeras horas tudo o que está relacionado com o Milhafre-real, assim como com o seu "primo",  Milhafre-negro (Milvus migrans) mais abundante e comum entre nós e, a primeira conclusão a que cheguei é que ambas as espécies são raríssimas de ocorrerem nas nossas zonas, estando uma até, em forte declínio! Em segundo, com as fotografias que detenho no meu arquivo, concluí que a ave fotografada não corresponde de todo, em características físicas às duas espécies já aqui referidas. É muito maior! Em terceiro concluí que o seu canto em nada corresponde também,  aos cantos que na veiga ouço, quase diáriamente!

Perguntei-me então, - que raio de espécie será esta que ocorre na veiga? Nova e profunda pesquisa! Um pouco à sorte, atirei-me para o campo das Águias [pensei - Águias em Lanheses era um fenómeno!!!] e...bingo...logo na primeira, todas as características correspondiam! Pesquisei, pesquisei, pesquisei, ouvi dezenas de vídeos com o canto das três espécies, visualizei centenas de fotografias onde se podem ver todas as suas características físicas e morfológicas e assisti a variados vídeos onde pude ver desde os voos, as cores, o canto e a forma de interagir na Natureza das três espécies de aves!

Conclusão! Fenomenal e excitante! A espécie que fotografei e que lá no alto nos céus acompanha quase diáriamente as minhas deambulações pelos terrenos da veiga é a Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo)! Afinal, existem Águias em Lanheses! Uauuuuuuu!!!! Fiquei estarrecido e extremamente feliz com a conclusão a que tinha chegado! Que riqueza faunística a que existe a sul, na veiga da nossa aldeia! Triste, por saber que ainda não é desta que avisto Milhafres em Lanheses e se calhar jamais os verei!

Cá está a fotografia que me levou a todo este estudo!

A Águia-de-asa-redonda é uma das mais comuns e abundantes espécies de aves de rapina da nossa avifauna. Uma das suas mais marcantes características para se identificar é a meia-lua acinzentada e que destoa do demais castanho da sua plumagem, existente no peito deste animal, tal e qual se pode ver nitidamente na fotografia que tirei. Outra das características é o bico amarelo e patas da mesma cor. Com cerca de 60 cms de tamanho e uma envergadura de asas que pode chegar aos 130cms(!!!) é uma ave de grande porte e majestosa quando em voo, vista nos céus! Plumagem castanha com manchas e riscas interiores mais claras e brancas que a fácilmente identificam. Habita zonas de bosque, junto a cursos de rio e pequenos lagos, mas caça sem problemas em campo aberto e é uma das espécies que mais comummente ocorre junto às estradas do nosso país, daí advir a facilidade em observá-la! Costumo vê-las frequentemente na ponte sobre o Lima, aqui em Lanheses e muitas vezes também junto aos caminhos do rio. Alimenta-se de tudo um pouco, desde pequenos roedores até carcaças de outros animais, sendo um necrófago constrói um ninho grande e lá são chocados três a quatro ovos incubados cerca de quarenta dias. A fêmea é que trata maioritáriamente da sua prole.  

Aqui em Lanheses, durante todo o ano costumo avistar duas planando no céu, mas já avistei outras (ou as mesmas) nas zonas da veiga em Vila Mou e mesmo em Fontão. Por certo não são um exclusivo lanhesense.

No entanto, apraz-me saber e ver este pássaro fabuloso que domina o céu lá para as zonas da veiga, aqui em Lanheses, vindo enriquecer ainda mais, uma zona que fervilha de actividade e vida selvagem!

Acreditem, o seu canto é fabuloso e vê-la a levantar voo é um primor para o olhar...


Sem comentários:

Enviar um comentário