domingo, 29 de abril de 2012

O que significa ser Nobre, nos dias de hoje?

Li com extrema atenção alguns comentários anónimos que foram publicados no blogue "vizinho" "DoLethes" onde se ressuscita o tema da "Nobreza". Presumo que os mesmo anónimos tenham-se servido desta antiga classe social, extinta, para atacar um pouco mais a laboriosa tarefa que o executivo da Junta-de-Freguesia tem vindo a realizar na aldeia desde que o povo o pôs democraticamente aos comandos dos destinos da mesma, renovando os votos para um segundo mandato e  a meu ver até, muito bem!

De qualquer modo, como democrata que sou, laico e republicano, apraz-me saber que em democracia, em verdadeira democracia, as classes sociais são extintas, sendo uma delas a Nobreza. Democraticamente falando, à nascença e durante toda uma vida, seja ela curta ou longa, todos somos iguais, todos temos os mesmos direitos os mesmos deveres perante a sociedade onde estamos inseridos e esta verdade inalienável e intrínseca à natureza humana, só se conquistou, quando se extinguiram as monarquias, pelo menos as mais absolutistas e as ditaduras, mas não é de ditaduras sobre o que quero escrever. As modernas monarquias só mantêm o título nobiliárquico e o anti-democrático direito sucessório, tendo as classes sociais que gravitavam à sua volta, sido extintas e mesmo as Casas-Reais têm de se sujeitar e viver com o que os Governos Democráticos lhes legam em Orçamento de Estado. Verbas, normalmente e altamente, abusivas...diga-se!

Para analisar a Nobreza como classe social, temos de voltar muitos séculos atrás no tempo e perceber que a racionalidade de pensamento por parte do ser humano não atingia os patamares e níveis dos dias de hoje. Por isso havia tamanha discriminação! E era-se nobre porquê? Somente porque um ser que era Rei, se por bem o achasse, nomeava qualquer um como nobre, desde que, lhe tivesse prestado valiosíssimo serviço a si ou à nação, contra isto (do serviço à nação) nada, ou por nascimento! Mas e os outros todos, onde ficavam inseridos, não tinham direitos? Nas outras classes sociais, o clero e o povo, mais tarde também, na Burguesia! E, não tinham direitos não! Haverá maior discriminação que esta? Haverá certamente muitas, nos dias de hoje, aliás, hoje em dia temos três classes sociais, vou-lhes chamar as classes sociais dos tempos modernos, os ricos, a classe média e os pobres, três, tal e qual como antigamente! Uma incomodativa semelhança aos tempos de antigamente mas com uma diferença providencial, a todos (ou quase) lhes é dado o direito de conquistarem esse alto lugar na sociedade, desde que tudo corra dentro da normalidade e se paute por esta marca! Não pretendo entrar em muitas divagações sobre a forma como alcançar um alto patamar social nestes tempos modernos, mesmo sabendo que poderia seguir essa complicada linha de pensamento...

Um ser humano hoje em dia pode nascer pobre, mas com o fruto do seu trabalho, com o fruto do seu suor, pode alcançar um destacado lugar na sociedade, antigamente, nos tempos da verdadeira nobreza, isso era algo de inatingível! Nascia-se nobre e morria-se nobre; nascia-se do povo e morria-se no povo; com as excepções à regra de serviços prestados à Casa-Real ou algum bravo e histórico feito, que permitiriam a um qualquer "pé-rapado", subir o patamar social.

Os ventos foram mudando, as políticas e mentalidades também e em boa hora as monarquias, sistemas plenamente anti-democráticos, caíram por terra, umas atrás das outras, quando a filosofia começou a pensar e a raciocinar porque raio é que por uma natureza de título, alguém poderia ser mais que outro, ser detentor de tamanha e descomunal riqueza enquanto "ali ao lado" se passava mingua e muita miséria? Claro que mais cedo ou mais tarde estes sistemas quebrariam e com eles toda uma discriminante teoria social, por arresto a Nobreza, também ou, principalmente! Em boa hora...

Não vou criticar massivamente aqui a nobreza, porque acho que temos de reconhecer que muitos e valorosos nobres, fizeram de Portugal e construíram o país que hoje é: soberano, independente e desenvolvido e isso lhes devemos agradecer; critico no entanto todos aqueles que toda a vida gravitaram em torno dos Reis e do seu poderio financeiro, autênticas sanguessugas do erário nacional! Critico, quando alguém se fica muito agradecido à nobreza e afirma que ela muito deu ao povo! Deu muito com uma mão, mas tirou outro tanto ou mais com a outra...e isso jamais entenderei e desculparei numa classe que se pautava e sempre pautou pelo despotismo...

E o que significa ser nobre nos dias de hoje? Nada, se nos referirmos ao termo histórico! Exceptuando a virtude de carácter, ser nobre hoje já não significa ser o que se era há séculos atrás! Hoje em dia a nobreza está reflectida na pureza e virtude de carácter, na valorização e grandiosísmo de actos, obras e pensamentos, conquista alcançada com a vinda da democracia que permite ao mais comum dos cidadãos transformar-se num nobre ser! Hoje em dia o nobre de antigamente é um cidadão anónimo, como qualquer outro, que se tiver comportamentos desviantes e que não respeite a virtude de carácter será julgado e punido de acordo com as leis vigentes! Antigamente isto era impensável, caberia ao Rei decidir...Nobreza e Estado de Direito, são palavras antagónicas!

Se calhar por tudo isto aqui analisado, entendo alguns dos comentários mais perniciosos que alguns anónimos proferiram contra a nobreza, eu também não alinho em falsas bajulações, nem muito menos bajulo alguém e percebo até a razão desses ataques, foram muitos séculos de pressão, de violência física, verbal e intelectual sobre o povo que nunca teve nada, por parte das elites de então, a dita nobreza e que deixou uma indelével marca para sempre sobre as pessoas mais comuns; a marca do despotismo, a profunda marca da pobreza extrema e com ela sem o saber, conduziu-se (a Nobreza) à sua própria extinção!

Em Lanheses, um episódio ficará para sempre marcado na minha memória, mesmo que não o tenha presenciado consigo imaginá-lo; foi-me contado por alguém do povinho, da plebe (não interessa quem); que muitas vezes às cinco da madrugada já estava a pé para todo o dia trabalhar no duro (Sol-a-Sol) no amanho das terras de um qualquer Senhor aqui da freguesia e quando a fome apertava com o suor a escorrer pelo rosto, ao olhar umas suculentas e deliciosas maçãs que pendiam nas macieiras, jamais se atreveria a colher uma ou a fazê-lo, pois um dos elementos dessa "nobre família" logo romperia irritado, propriedade abaixo, caso o visse, até à sua beira para proibir a degustação do mesmo fruto...e muitos frutos apodreciam no chão sem que ninguém lhes tocasse ou o ousasse fazer...passava-se muita fome!

Este relato fica como definição ilustrada de Nobreza...acontecia, em Lanheses, não há muito tempo atrás!!!


Muitos, sabê-lo-ão melhor que eu...









1 comentário:

  1. Muito obrigado, e ja que nunca sera pago pot esta explicacao, que o meu Deus o recompense por todo este esclarecimento. Os meus antepassados, para alem do escravo trabalho, contaram que outros actos...existiam, ai sim misturavam-se com os "desgarcados"

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