segunda-feira, 21 de maio de 2012

Santo Antão (revisitado) - O verdadeiro espírito da festividade!

Passada que está, a festividade em honra de Santo Antão e o calendário continuar a correr languidamente em direcção ao Verão e a outras festividades que surgirão com a passagem dos dias desse mesmo calendário, ocorre-me pela última vez este ano, revisitar o tema citado em assunto e dar o protagonismo devido a quem há muito está apeado desta festividade; o animal! No tópico anterior dei primazia à temática antropológica, salientando o convívio entre as pessoas e as exéquias religiosas, que se vivem, aquando deste festejo. No entanto seria da minha parte um pouco egoísta, se falasse tão e somente da componente humana, da tasca, de copos, de santos e esquecesse os animais, porque, Santo Antão era isso mesmo, ou melhor, é isso mesmo; é uma festividade onde, desde há tempos imemoráveis, os aldeões levavam ao seu orago, os animais domésticos que tinham em sua posse, para que fossem benzidos e abençoados pelo poder eclesiástico revestido na figura do pároco da aldeia. E eram tempos de muita míngua e muito pouca fartura, esses que se viviam há muitos anos atrás em pleno regime ditatorial, que muita miséria trouxe a este Portugal e às famílias espalhadas pelas aldeias e vilas deste país! Lanheses não seria excepção, excluindo claro, alguns (muito poucos), nobres, que viviam mais desafogadamente...o comum dos aldeões passava fome e trabalhava de Sol-a-Sol para poder sobreviver, pelo que, qualquer animal que tivesse em seu poder de modo a alimentar, engordar, para depois matar e saciar a fome, alimentando por uns tempos o agregado familiar que em casa tinha; era tratado como um bem de cariz extremamente precioso, tanto mais que os mesmos animais eram preciosíssimos auxiliares (também) na lavoura e actividades agrícolas, porque, para além de não haver dinheiro para máquinas agrícolas (nem para sardinhas, quanto mais para maquinaria) e mesmo estas ainda estavam pouco desenvolvidas (pelo menos em Portugal) era o animal, conduzido pelo seu dono, que brilhava e ajudava no amanho da terra, no sustento da casa e no amanho económico da família, quando vendido, nas feiras.

Daí advinha a importância de levar os animais domésticos até ao Santo para serem benzidos, de modo a que o ano corresse bem, fosse abençoado. Traduzindo por outras palavras; prevenindo que a míngua não atingisse de novo a casa de cada um. O sucesso na criação de um animal significava, fartura e um meio essencial de transporte (temos como exemplo o cavalo) e de tracção (por exemplo o gado bovino) em tempos de pouca fartura e muita dificuldade. Quem não se lembrará, em Lanheses, dos carros de bois que circulavam nestes caminhos da aldeia? As gerações mais velhas de lanhesenses com certeza se lembrarão muito bem e ainda há uns vinte anos atrás(mais ao menos, por aquilo que me vão contando) ainda muitos circulavam. Dos animais tudo se aproveitava e se dos mesmos se produzia leite, queijo, chouriços e até vestuário entre outros artigos; como não haveriam estes de ser venerados e levados a abençoar, com a agravante da grande religiosidade, por que sempre se pautou o povo português! Santo Antão era (é) o seu padroeiro, o seu protector!

Os anos foram passando, os países e as sociedades foram-se modernizando, enriquecendo, veio a Democracia, veio a prosperidade com a conquista das liberdades em Abril de 74 e as dificuldades começaram lentamente mas em crescendo, a diminuir, até aos dias de hoje! Em consequência, também o animal foi perdendo a importância que demonstrava nesses anos idos e em virtude disto, na festividade de Santo Antão, hoje em dia, já não se vêem os animais a serem levados ao orago para serem benzidos pelo pároco da aldeia, como antigamente. Perdeu-se esta tradição, embora se tenha mantido toda a outra componente humana, típica da festividade, mas infelizmente, perdeu-se para sempre esta tão típica manifestação de fé e de pedido de ajuda ao divino para que (fundamentalmente) personificado no animal doméstico, o ano corresse bem! E houvesse o que comer...

Ocorreu-me a ideia de fotografar a festividade, quando lá estive este Sábado passado, numa óptica mais humanizada e, para este tópico, teria de ter fotografado animais junto à capelinha de Santo Antão. Ora, lá não estava nenhum, com excepção de um gato que fugia sorrateiro! O que fazer? Como lanhesense (mesmo que forasteiro) que se preza, acompanhei o lançamento por parte da Junta de Freguesia do livro - Lanheses a preto e branco...e...lembrei-me de fotografar as fotografias que lá foram publicadas referentes a esta festividade onde se vêm os lanhesenses (em tempos há muito idos) acompanhados dos seus animais para serem benzidos, muitos deles, lanhesenses ainda vivos e que conheço muito bem. Serve também para quem está por fora, ganhando a vida, matar saudades de tempos que se revestiam de muita dificuldade, mas que tenho como certo que muitos ainda os consideram saudosos, onde misturada com dificuldades, a alegria acabava sempre por imperar! Como os admiro meus amigos!

Dou então neste post, relevo aos verdadeiros e mais importantes elementos desta festividade; os animais, com fotografias que retirei do (acima) referido livro...esperando que a todos traga muito boas recordações e dando a importância devida aos animais que temos em casa; sejam para fins de trabalho, fins de lazer, companhia ou para consumo próprio, até!


 A esta galeria, se tivesse de lhe dar um nome, chamar-lhe-ia - Os dias felizes...

 



 








Fotografias retiradas do livro - Lanheses a preto e branco.

Fico muito sensibilizado ao ver tanta felicidade estampada nestes rostos de gente jovem que nada tinham, quando comparados, com a minha e, estas novas gerações; que "estragados com mimos", talvez por aqueles que antigamente "nada" tiveram e não quiseram o mesmo para os seus filhos (como os entendo), tinham no entanto, um bem mais precioso, a simplicidade aliada à felicidade, que tão bem é demonstrada nesta fotografias. Nós, hoje, com tudo o que dispomos não somos nem um ínfimo mais felizes que aquilo que eles foram, quando jovens...basta (por exemplo) ver o sorriso do meu pai ao contar histórias de rapaz novo quando ia aos ninhos, quando ia à fruta...etc, etc.!!! Nada de telemóveis, nem PC´s...e isso verdadeiramente nunca vou entender, mas antes, admirar...


Santo Antão, era isto; o Sagrado e o Profano de mãos dadas, era festa, era alegria, eram cantigas e danças, aproveitando a ida ao orago onde eram levados os animais para que depois de benzidos o ano fosse de fartura! Tudo era motivo para alegria e cantoria...e neste dia, os animais (mesmo que não o entendessem) eram os reis da festa!!!


Assim me despeço de Santo Antão, até para o ano!









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