sábado, 7 de julho de 2012

Estandarte esvoaçando ao som do vento!

Num daqueles momentos em que, deambulando pelas tábuas de madeira do cais do rio Lima e apreciando a baixa da maré do mesmo rio, com tempo algo acinzentado; um pequeno pormenor me chamou a atenção. Aparelhados paralelamente alguns barcos repousam abanados somente pelo movimento tímido da corrente das águas, entre eles o mítico Água-arriba.

Corre uma brisa ligeira, fresca, trazendo nuvens cinzentas para cima de nós e reparo também, na solidão da paisagem por entre os Carvalhos seculares que por ali ocorrem, que a passarada hoje está calma e mesmo as andorinhas não voam com tanta fogosidade como é costume em dias encalorados. Chuva. Vem aí chuva!

Levo aos lábios um cigarro, sento-me no estrado em madeira e fico-me ali, fumando e olhando a paisagem que desfila diante o meu olhar. Os meu olhos detêm-se então, no generoso mastro do Água-arriba, na sua vela recolhida e, no seu topo, abanado pelo vento fresco, deparo-me com o seu estandarte esvoaçando ao som do vento! Analisando a vela, os cabos e nós do aparelho de marear, juntamente com o estandarte esvoaçando, sobre o cinzentismo da paisagem, imaginei o Água-arriba, qual barco de piratas ancorado em desassossego, esperando o patrão para enfrentar novas aventuras...


Por entre a bruma e as folhagens do arvoredo, vê-se o estandarte abanado pelo vento, chegou o barco à aldeia e com ele chegaram os piratas...(estou só imaginando).


LANHESES.


Aparelho de marear.




Cais do rio Lima.


Em breve, subindo a verde avenida que dá acesso à aldeia, os piratas se pavoneiam pelas ruelas e casario da mesma, os habitantes em terror, trancaram as suas portas e estão fechados dentro de casa. Ninguém ousa sair à rua com a temeridade de se encontrar com um desses desdentados e maléficos seres, com pala escura no olho, tapando a horripilante falta do mesmo, chapéu velho de três bicos do tipo napoleónico, corsários rasgados pelo tempo, camisa suja de riscas vermelhas, polainas gastas pelo passar dos anos e das aventuras nos mares deste mundo e uma vontade louca de ver as moças bonitas desta terra...

Acordo para a realidade, com um som de um automóvel que cruza o caminho por trás das minhas costas; já não vivemos tempos de piratas, nem o Água-arriba é o barco deles e nem tão pouco as moças bonitas da aldeia necessitam de se preocupar...vivemos tempos de paz e de modernidade, estando ali, imponente na água, esta barca, para ser testemunha de um passado glorioso, um passado não de roubos e pilhagens como o era o dos piratas, mas sim um passado conotado com o trabalho e uma vida difícil mas alegre, em que as estradas eram poucas e de má qualidade e o automóvel, um bem ao alcance de uma minoria considerável...e o Água-arriba, talvez, o mais importante meio de transporte dessa época sendo o Lima a sua grande autoestrada...



2 comentários:

  1. "...já não vivemos tempos de piratas, nem o Água-arriba é o barco deles e nem tão pouco as moças bonitas da aldeia necessitam de se preocupar...vivemos tempos de paz e de modernidade,...)".

    Sérgio, amigo, adormece outra vez. Não deixes que as moças bonitas saiam dele (do sonho) para não teres o pesadelo de as ver substituídas pelos cobradores da troica coelho e gaspar a chegar de BMW para te roubar...a carteira!

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  2. Esses, caro amigo, são os piratas dos tempos modernos...mas ao contrário da população da aldeia, não me atemorizo com a sua presença, mesmo sabendo que vou ser assaltado...abraço

    Sergio.

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