segunda-feira, 9 de julho de 2012

Na Feira!

Na passada Sexta-feira, de modo a tratar de alguns assuntos pendentes, decidi deixar a J5, estacionada na Agra e a pé, dirigi-me até ao Largo da Feira, aproveitando o Sol que reluzia no céu e o tempo convidativo a uma caminhada. Da Agra até à Feira, dá-se uma pernada curta mas bastante agradável, tendo aqui Lanheses, alguns dos seus melhores enquadramentos para que se possam tirar umas quantas e belas fotografias. Desde os edifícios em granito sitos ao fundo, no já referido largo, que se avistam da Avenida Rio Lima, secundados pela soberba montanha que é o promontório da Sr.ª do Minho, até à beleza do arvoredo que povoa este recanto da nossa aldeia!

Primeira paragem, no posto dos correios, onde, após uma breve troca da palavras com o sempre simpático Sr. Joaquim, e umas cartas depositadas, me dispus a seguir em direcção ao dito largo, mas, dando-me vontade de fumar uma cigarrada, sentei-me numas escadinhas em granito, colocadas sobre o passeio, pertenças à moradia do Sr. Armando Tinoco, logo depois da passagem para peões ali existente, para preparar o tal cigarro e, apreciando o desenrolar da vida quotidiana lanhesense na Feira, desfilando imune ao meu olhar e ao meu cigarro preparado no momento; eis que me veio à lembrança, pelo simples facto de ali estar sentado, uma pessoa que me era querida e que já partiu desta vida terrena, que muitas e variadas vezes ali conversava sentado com o seu amigo e parceiro de conversas o Sr. Tinoco. Era meu Tio, por afinidade e, passei com ele algumas horas divertidas, mesmo que o seu feitio fosse de uma introspecção terrível! Veio-me à lembrança o "Tio Chico Praça", o barbeiro de Lanheses...pessoa das mais conhecidas entre todos nós!

O tempo passa muito rápidamente e o corpo do Tio Chico repousa no cemitério da aldeia há já algum tempo, quase, quase, a completar dois anos desde a data da sua partida desta vida! No entanto, ali sentado, veio-me à ideia o sorriso maroto com que muitas vezes me brindou em conversas que tínhamos; era homem de poucas falas, é certo, mas quando falava, falava com acertividade e quando brincava, punha no rosto aquele sorriso "matreiro", malicioso, engraçado, que só ele sabia fazer! Deixou saudades com a sua partida muito rápida, nem parecendo seu, pois viveu a vida na sua vagareza que todos conhecíamos, com calma e sempre com muita ponderação. Ali sentado naqueles degraus uma panóplia de pensamentos surgiu-me na mente e olhando as pedras da calçada, parece que o estou a ver passeando para trás e para a frente acompanhado do Sr. Tinoco, em amenas cavaqueiras...Como eles gastavam o chão daquele largo, caminhando e conversando sem parar...olhando agora os edifícios da Feira e do mesmo largo, penso em como este homem bom que ganhava a vida aparando as "crinas" de centenas de clientes, quer de Lanheses, quer das aldeias limítrofes, que à sua presença vinham em busca do corte de cabelo e barba feitos, penso como dizia,  no amor e paixão, que este homem pequeno e bom, tinha pela sua aldeia e particularmente pela Feira que era quase a sua moradia...

Munido da minha Fuji e embrenhado em memórias, fotografei a Feira, do local de onde o "Chico Praça", tantas e tantas vezes a apreciava, parecendo-me neste momento em particular, a mesma, ainda mais bela!








É certo que o famoso barbeiro de Lanheses, já não mais cá mora entre nós no reino dos vivos, mas mesmo assim, a Feira, ainda continua impregnada da sua presença, quer nas portas podres e fechadas da sua antiga barbearia, quer nas pedras da calçada gastas pelas solas dos seus sapatos, quer na antiga fonte (que entretanto mudou de sitio) onde muitas vezes encheu água para borrifar as cabeças e cabelos dos clientes e, sobretudo, nestas escadinhas em granito, de onde apreciava a nossa vida e via muitas vidas desfilarem perante o seu olhar e onde agora, saudosamente, recordo a sua pessoa!


Ainda cheira a "Praça" na praça!





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