sábado, 22 de setembro de 2012

Poema de autor lanhesense!

Pela festa no Milheiral, fiquei deveras comovido com a majestosa actuação do grupo de cantadeiras de Lanheses, para quem os anos não parecem passar, não fossem algumas rugas visíveis naqueles finos rostos atestando o passar dos anos, diria que estas mulheres de lanheses com tanto vigor e alegria contagiantes, seriam antes, jovens em plena mocidade...  
 
Estes dias passados, sem que o esperasse, fui visitado por uma destas belas mulheres, que timidamente me veio apresentar uns versos de sua autoria (talvez conhecendo o gosto que tenho pela poesia, seja de que tipo for) no intuito, caso me interessasse, em partilhar com todos aqui no blogue. Tenho por esta lanhesense, um carinho muito especial, pois a imagem que me transmite é a de uma mulher de armas, de luta, que fez pela vida, trabalhou muito, criou os filhos (quis o destino que viesse, com surpresa, anos depois, a reencontrar a sua filha que não via desde os tempos do liceu, quando frequentamos a mesma escola), mas nunca deixou de lado o gosto pela representação e pelas lides do intelecto. Tenho-a como pessoa de inteligência invulgar aliada a uma capacidade teatral invejável, sobretudo quando somos confrontados com os seus lindos e enormes olhos esverdeados, tão brilhantes, resplandescentes de vida...Helena Brandão...este nome poderá dizer a cada um de vós, muito mais que aquilo que poderá à minha pessoa dizer, e certamente muitos de vós a conhecem muitíssimo melhor do que eu (cá está a minha faculdade de forasteiro a funcionar), no entanto não me passa incólume a teatralidade e génio desta mulher de Lanheses e a forma tímida e delicada sempre que dialoga comigo...um encanto!
 
Não me vou alongar em adjectivos, que qualifiquem este ser humano, até porque muito haverá por certo, de positivo a dizer desta mulher, mas teria aqui linhas e linhas para escrever e não chegaria um tópico como este, para desenvolver um retrato de tal personalidade. Vou ao que interessa e ao que esta mulher me deixou, e que no Milheiral não consegui ver na íntegra, pois como lhe disse pessoalmente, e é verdade, a comoção ao vê-las actuar toldou-me os sentimentos e comovido tive de me afastar por momentos...lamento...mas sou assim!
 
Passo a transcrever, na íntegra, o poema de Helena Brandão, lido e teatralizado na Festa no Milheiral:
 
 
Rio Lima, o teu encanto
é nobre a tua doçura.
por isso ainda és procurado,
pela tua enorme frescura.
 
Não havia discotecas,
no meu tempo de menina.
Mas passava bons momentos,
nas margens do Rio Lima.
 
Quando eu banhava os pés,
tu me fazias carícias.
Rio Lima, que saudade
eu tenho dessas delícias.
 
Eu pastava animais
e também lavava roupa.
Nas tuas águas, ó Lima,
pois em casa era pouca.
 
Roupa lavada e branquinha,
torcida por minha mão.
Nas tuas águas, ó Lima,
nem precisava sabão.
 
Quando ia lavar roupa,
ó Lima, nas tuas águas.
Eu sussurrava baixinho,
confessando minhas mágoas.
 
Minhas mágoas eram tantas,
que eu só a ti confiava.
Tantos beijos que me deste,
enquanto eu roupa lavava.
 
Enquanto lavava roupa,
nas tuas margens, ó Lima,
admirava os belos barcos
rio abaixo, rio acima.
 
Barqueiros no Rio Lima
passavam com persistência.
Era uma tarefa árdua,
para a sua sobrevivência.
 
Todo o dia, o barqueiro
remava o seu barco à mão.
Não podia descansar,
era o seu ganha pão.
 
Esperada a maré alta,
um belo barco, à vela chegava.
Era o do Tio Carolino
que diversos transportava.
 
Carregado de mercadorias
das feiras de Ponte de Lima.
Chegava o do Tio Rochinha,
em que ele tanta estima tinha.
 
De manhã muito cedinho,
via o Augusto da Clara.
No seu barco silencioso,
na pesca da lampreiada.
 
Sempre o Abel do Ferreiro
presente na sua barquinha,
pois adorava pescar
a saborosa tainha.
 
Eu ainda estou lembrada
e recordo com carinho
ir a Geraz do Lima buscar soro,
no barco do senhor Coutinho.
 
E o do Tio Zé Badalheiro
ó que saudade tem o povo!
Todos estes barqueiros já partiram
e tu, Lima, estás sempre novo.
 
Nas noite frias de Inverno,
de peneiras e lampiões,
lá iam os lanhesenses
para a pesca dos manjões.
 
Também ainda me recordo,
em Domingos e feriados,
no areal os piqueniques,
por todos tão desejados.
 
Hoje mais nada nos resta,
que esta bela recordação.
Mas para nosso maior consolo
Temos o Água-arriba feito pelo Manuel João.
 
 
(Da autoria de, Maria Helena Agra Gomes Brandão)
 
 
 

 
Á autora, o meu agradecimento por se lembrar deste espaço virtual e da minha pessoa, a quem cumprimento daqui com um abraço de admiração e um grande beijinho de respeito, por tanta e por tão inteligente jovialidade!
 
 
Aquando da leitura destas belas quadras, no palco do Milheiral!
 
 
Sempre que o queira, este é um espaço aberto à sua brilhante participação!
 
 
 
 

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