quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Quadras de Manuel Gonçalves Franco ou "Tio Néu Carvalho".

Sempre com temas muito interessantes, lúdicos e culturais, que sirvam a temática que é abordada neste blogue, o vale da Serra d´Arga e Lanheses, aldeia localizada no sopé do promontório da Senhora do Minho; recebi via email do amigo Amaro Rocha da Taboneira, umas quadras compostas por um lanhesense há muito desaparecido do convívio dos vivos, que tinha também uma queda para a poesia, neste caso, a poesia de cariz mais popular e que será de todo lamentável, não ser neste espaço virtual, divulgada.

Citando, Amaro Rocha, e com a sua devida autorização, transcrevo aqui neste tópico a informação e o maravilhoso manancial poético-popular, que este lanhesense [que muitos de vós conheceram bem ou ainda trazem na lembrança], foi escrevendo e reunindo tendo sempre como temática a aldeia que amava e onde residia, Lanheses.

Diz Amaro Rocha (citado em parte):

"Manuel Gonçalves Franco faleceu em 1966, e foi durante muitos anos empregado da instituição Casa do Povo, fundada na década de 1930, exercendo ali a função de escriturário. Era carinhosamente tratado por Manuel Carvalho ou simplesmente "Tio Néu Carvalho", apelido que já vinha dos seus pais que possuíam uma pequena quinta na Taboneira, existindo ali um enorme souto de carvalhos centenários. Ainda conheci na minha infância Manuel Gonçalves Franco, servindo-me muitas vezes da sua biblioteca e de uma enorme colecção de jornais e outros documentos. O professor Gabriel Gonçalves recolheu grande parte das suas quadras populares no seu livro (ainda não publicado) "Lanheses, Subsídios para uma Monografia", e a cujas fotocopias encadernadas tive acesso. E foi daí que extraí o que ele escreveu no passado sobre as fontes de Lanheses, em quadras, e com a visão de um bom conhecedor da sua terra, que, tal como nós, adorava."


SOBRE A FONTE DA REBIQUEIRA (AINDA HOJE EXISTE)

A fonte da Rebiqueira
Para quem mora lá à beira
Tem água bastante boa,
Até p`rà industria louceira

A água da Rebiqueira
É mui bem aproveitada
Vai para o Largo da Feira
Mas no v`rão não deita nada
 
 

SOBRE A FONTE DE LAMAS (DE CHAFURDO. JÁ NÃO EXISTE)

É água muito pesada
E bem pouco arejada,
Pois ouve cantar a rala
De noite até madrugada

Falta-lhe boa higiene
E perto tem um juncal
Devia ser arranjada
Para não nos fazer mal
 
 

SOBRE A FONTE DA BIQUEIRA(ERA NO BARREIRO, E JÁ NÃO EXISTE)

Esta fonte da Biqueira
É só um fio a correr;
Nasce em pedra ferrenha;
Muito boa p`ra beber

Nas enfornadas da telha
Quando se andava a cozer
Lá se ia buscar água
P`ra toda a gente beber
 
 

SOBRE A FONTE DO CLERO (?)

Antiga fonte do Clero,
Pelos padres apreciada;
O "surgião" do Amonde
P`ra doentes a receitava

Nasce na baixa de Braga
Viradinha ao nascente;
Com sua muita frescura,
Esta água consola a gente.
 
 

SOBRE A FONTE DA PEITILHA (AINDA EXISTE, MAS DIFERENTE DA ORIGINAL)

Esta fonte da Peitilha
É pouco para estimar,
Pois o rego das Pontelhas
No inverno a vai beijar

Nascida em aluvião
Junto a terras de limar,
É com água má e salobra,
Muito pouco paladar.
 
 

SOBRE A FONTE DAS ROUPEIRAS (AINDA EXISTE, MAS ALTERADA)

Esta água das Roupeiras
A cântaro é tirada;
Quando o amor vai ajudar
Caminho não custa nada

A caminho desta fonte
Casamento fui pedida,
Ora sou mulher casada
E não estou arrependida
 
 

SOBRE A FONTE DAS CASTANHEIRAS (EXISTIU TAMBÉM NO LUGAR DAS ROUPEIRAS)

Ó fonte da Castanheira,
Entre silvas a correr,
Banhadinha pelo sol
Desde manhã ao nascer.

Ó fonte da Castanheira,
Se eu morasse à tua beira,
Ouvia cantar as rolas
E o cuco na Silvareira.
 
 

SOBRE A FONTE DE MARIA BRAVA (NO MONTE CALVELO, ONDE SEGUNDO A TRADIÇÃO MATARAM MARIA BRAVA)

Desta água não beberás
Quando andares a dançar,
Pode cair nos pulmões
E com ela embarcar.


 
Manuel Gonçalves Franco fotografado com 55 anos.
 
 
Ao amigo Amaro, uma vez mais o meu muito obrigado por me facultar este histórico manancial, esta riqueza etnográfica, que com orgulho e muita satisfação, aqui publico no SSVSA.  
 
A todos que acompanham este blogue, oficial e anónimamente, formulo aqui um pedido, o de que se dispuserem de conteúdo similar, seja histórico, seja poético, seja em prosa ou em meras fotografias que se enquadrem no tema deste blogue, Lanheses e o vale da Serra d´Arga, o favor de não se acanharem e partilhem esses dados com o autor deste blogue, procurando-o em casa na Granja, na rua, via email ou por outro meio até, porque este espaço virtual preza muito a participação de todos e reafirmo, TODOS, os lanhesenses! Que bom seria que muita mais informação desta qualidade e com esta riqueza cultural, me chegasse à mão...participem, por favor!
 
Agradecido!
 
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário