quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Relembrando a "Tia Felicidade".

Uma das mais gratificantes situações que surgem, quando alguém cria um blogue do género deste, como foi por mim criado, é ver a participação e interesse activo dos seus leitores, facto que muito me apraz e me enche de alegria. No seguimento de um post por mim criado num final de tarde, daqueles em que a luminosidade é típica e dá um belo colorido ao final do dia, uma fotografia que tirei às ruínas sitas na Taboneira de uma casa feita com paredes de taipa, prendeu a atenção de um leitor do blogue (Amaro Rocha) que me enviou via email o seguinte texto abaixo publicado, assim como belas fotografias, e que passo a citar em parte:
 
"Caro Sérgio Moreira:

No seu Post “Belo final de tarde” publicado no dia 1 de Outubro 2012, tem uma foto panorâmica tirada no lugar da Taboneira que me chamou à atenção!
Trata-se de um belo conjunto de uma casa agrícola, que tão bem conhecemos na nossa infância e juventude. Hoje, em adiantado estado de degradação, é mesmo assim uma autêntica relíquia, diria mesmo “um museu ao ar livre”. Este conjunto (tratava-se de mais de uma construção) era quase na totalidade construído com paredes de taipa, técnica ancestral, onde se utilizava barro misturado com pedras, bem prensadas e que lhe conferia uma resistência muito idêntica ao cimento (já aqui se deslocaram estudantes de arquitectura para estudo, assim como à antiga casa de Américo Faria da Rocha, que já não existe. Ver fotos) O telhado, como ainda hoje se pode ver, é constituído por “telhas de meia cana” de fabrico artesanal. Os edifícios que já ruíram também eram cobertos por “telha marselhesa”, provavelmente fabricada em Lanheses, na antiga fábrica de Domingos Rocha Santos e João Gonçalves da Quinta (João das Teresas), a “Fábrica das Mimosas” no lugar do Barreiro. Também aqui funcionou um alambique, no tempo de Manuel Costa Pereira e sua esposa Maria José Alves, cuja filha Felicidade Alves Costa foi a continuadora da casa. Felicidade foi vítima de meningite na infância, passando desde então a andar auxiliada por duas muletas. A casa voltou então a ter um novo apogeu, graças à oficina de costura criada por Felicidade Costa.
Foram décadas a criar vestuário, nos bons velhos tempos em que tudo era feito à mão, sendo Felicidade uma excelente profissional e uma das costureiras mais procuradas em Lanheses.
A parte virada para sul formava um belo conjunto, digno da paleta de um artista. A casa, o espigueiro, o poço e a eira de lajes são de uma grande beleza como se pode ver nas fotografias de 2002, ainda com a presença da “Tia Felicidade”.
Hoje tudo está em ruína acelerada não passando como diz o Sérgio “memórias de tempos passados”."
 
 
 
 Ruínas da casa de Américo Faria Rocha (já não existentes).
 
 
 Idem...
 
 
 Casa de Felicidade Costa. Fotografia tirada na década de oitenta.
 
 
Fotografias mais recentes. 
 
 
 As ruínas que sempre que lá passo, me chamam a atenção!
 
 
 
 
 O espigueiro e pormenor da eira em lajes de pedra.
 
 
 
 "Tia Felicidade"
 
 
 Idem...
 
 
 
 Um belo pormenor da eira...
 
 
 O poço. De referir, o pormenor dos blocos de barro que fazem as paredes do mesmo.
 
 
 E uma bela fachada branca.
 
 
Estamos, ao visualizar estas fotografias, a contemplar um património arquitectónico único, um legado extremamente precioso, quer da referida e presumo que para muitos, saudosa senhora, quer da sua moradia construída de acordo com a ancestral técnica das paredes de taipa, que ainda se pode ver em algumas (poucas) moradias espalhadas por Lanheses. Memórias de um tempo que já não volta, talvez...para muitos, muito infelizmente!
 
 
Ao Amaro, o meu muito obrigado por partilhar com todos nós, estes preciosos e históricos documentos.
 
 
 

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