quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Revisitando o tema - Património singular!

Ainda há uns poucos dias atrás, escrevi sobre uma ruína que existe no Lugar da Rocha, tecendo considerações acerca da mesma, do local onde está edificado o edifício e referi sentimentos que aquelas paredes ocres me transmitem sempre que lá passo e alguns minutos me detenho a admirá-la. Um testemunho importante daquela que foi a indústria tradicional em Lanheses, que existia há já longos e idos anos!
 
Muito agradavelmente recebi via email relativamente ao post que criei, a participação sempre atenta e inteligente por parte do amigo Amaro Rocha, lanhesense que muito prezo, mas que não gosto de visitar no seu local de trabalho, pois é sinal de que sempre que lá vou é para esbanjar dinheiro em medicamentos, logo, estou adoentado...(risos), o que não é nada de positivo, diga-se! Como não é segredo para ninguém, não sendo oriundo de Lanheses, é-me difícil muitas vezes tratar alguns locais, edifícios e muitas pessoas, pelos nomes, pois, como é óbvio, não os sei ou desconheço, dada a minha condição de forasteiro. No entanto, vou sempre recebendo uma dica aqui e ali, também aprendendo e, referente a estas temáticas que tratam o passado, tenho recebido uma ajuda preciosa do Amaro, fornecendo-me dados históricos e registos fotográficos de extrema importância que mostram Lanheses, por vezes, como nunca nenhum de nós, mais novos e forasteiros (como eu) imaginaram algum dia ver! Muito, este amigo, me tem ensinando e não é vergonha nenhuma estarmos sempre a aprender...antes pelo contrário!
 
Ora, no seguimento do meu post "Património singular" onde foco as ruínas da fábrica de blocos e de telha edificada no Lugar da Rocha, a "antiga fábrica do Agra" recebi, como já anteriormente afirmei, via email da parte de Amaro Rocha, informação preciosa e histórica relativamente a este tema, que passo a citar em parte, com explicações mais detalhadas daquela que um dia foi, grande empregadora na aldeia de Lanheses. Seria, da minha parte, de um egoísmo inqualificável, que não partilhasse com todos os leitores do blogue, estas preciosas informações! Passo a citar:

"No seu post “Património singular…” publicado em 19 de Outubro, levantou a pertinente questão “até quando este património singular aguentará a ruína”.
É de facto triste ver desaparecer estas velhas unidades industriais, símbolos de um passado glorioso. A fábrica em questão “a velha fábrica do Agra” no lugar da Rocha foi uma referência no passado. Fundada em 1942 por José Martins Agra, juntamente com Manuel Araújo e Palmira Sequeira da Silva, a fábrica “José Agra e Cª” destacou-se no fabrico industrial de telha e tijolo. “Inovadora na época, esta fábrica destacava-se pelos aperfeiçoados meios técnicos, o que permitiu que a qualidade melhorasse muito” – como escreve a Dr.ª Maria de Fátima Pimenta Agra em “A Olaria em Lanheses” (Edição da Junta de Freguesia)
Em 1967 funcionou nesta fábrica um ensaio de louça decorativa, com a fundação da “Olaria Artística de Lanheses – OAL”, com a iniciativa de José Martins Agra.
Em 1983, nas mesmas instalações, nasceu a “Olaria de Lanheses”, sociedade por quotas “Agras e Dias Limitada”. Esta iniciativa também não resultou, acabando por fechar na década de 1980.
Também nestas instalações funcionou durante muitos anos, uma pequena unidade de produção de blocos de cimento, também de José Martins Agra, e cujo responsável era o popular Manuel Correia da silva (Quinta Nova).
Actualmente só resta uma carpintaria.
"


Em seguida, os documentos fotográficos da antiga fábrica, José Agra & Cª:



 
Fotografia tirada em 1984, logo, logo, a comemorar o seu trigésimo aniversário (a foto).
 
 
 
 
Fotografia tirada em 2001, antes de um incêndio que destruiu esta parte da antiga fábrica!
 
 
 
Idem, idem. Esta bela fachada, já não existe!
 
  
Idem, idem.
 
 
Vista da estrada da Rocha, em 2001.
 
  
Trágico incêndio de 2010...acho eu, nunca devidamente explicado!
 
 
Idem, assim se perde tragicamente, um legado histórico da mais alta importância!
 
 
 
Um dos fundadores da fábrica, Sr. José Martins Agra.
 
 
Abaixo, imagens de alguns dos artefactos de olaria produzidos nesta fábrica!
 
 
 
 
Um belo conjunto!
 
 
 
 Pintada manualmente...
 
 
Toda pintada...belo exemplar 
 
 
 
 
 
A telha, que se produzia, nesses tempos idos...Lanheses, ainda se escrevia com "z".
 
 
 
Idem.
 
 
Para o final, não poderia deixar de postar aquela que considero dentro de todas estas fotografias a mais importante, tirada a "preto e branco", onde se podem, ainda ver ao alto, as imponentes chaminés desta antiga indústria, um marco histórico da cultura e do passado lanhesense, que, a meu ver, seria de todo importante tentar preservar!
 
 
Testemunho de gloriosos, longos e idos tempos, da indústria tradicional portuguesa...
 
 
Para quem gosta de história, de estudar a etnografia, a cultura e matrizes históricas de uma comunidade, de um povo, de um país, como eu gosto, considero estes documentos de uma importância avassaladora, tanto mais que hoje em dia já todos sabemos que importância se dá ao passado e ao que é tradição...nenhuma! Assim vai este nosso país, não sabendo estudar e realçar o seu passado de modo a perspectivar o seu futuro...
 
Como o adiantado estado de degradação que este conjunto fabril hoje em dia apresenta, assim está a política nacional para o presente e para o futuro, na ruína, não tendo um rumo, nem tão pouco uma perspectiva de como não deixar as tradicionais fachadas e paredes ruírem...
 
Ao Amaro, o meu agradecimento do costume!
 
 
 
 

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