sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Tradições e saudade - um poema para a III Tertúlia.

Longe vão os tempos...
 
 
Longe vão os tempos...
dos caminhos percorridos por carros de bois
levados em lembranças, pelos ventos,
da aldeia, de Lanheses, no campo nós dois...
 
 
Longe vão os tempos...
das raparigas que fiavam o linho
em alegre cantoria e em pensamentos,
o cardavam sob o Sol escaldante deste Minho...
 
 
Longe vão os tempos...
da desfolhada alegre e divertida
entre espigas, troca de sentimentos
provas de amor para toda a vida.
 
 
Longe vão os tempos...
do namorar à janela
para que não se dessem maus exemplos
e a vida, embora difícil, fosse bela...
 
 
Longe vão os tempos...
de um sorrateiro beijo, trocado à beira rio,
com o Lima a acelerar os batimentos
de um coração e lábios, num amor luzidio.
 
 
Longe vão os tempos...
de atravessar o Lima com o barqueiro
chegar à passagem, que sentimentos
e olhar Lanheses, amor verdadeiro...
 
 
Longe vão os tempos...
de ir a Ponte no Água-arriba
subir o rio, para depois descermos lentos,
nestas águas destilando a nossa vida.
 
 
Longe vão os tempos...
passados no campo a trabalhar
na fábrica da telha, mil tormentos,
do calor dos fornos, mãos ardentes e a queimar.
 
 
Longe vão os tempos...
das corridas em busca do estanho
homens sujos de riqueza sedentos,
para riquezas encontrar, perdidos em suor tamanho!
 
 
Longe vão os tempos...
das tascas e das barbearias que ocorriam na Feira,
em alegre cavaqueira homens e malgas em tormentos
e neste largo se dava azo à brincadeira!
 
 
Longe vão os tempos...
da multidão que ocorria à feira
para comprar galos e coentros
e para casa voltar, apanhando a carreira.
 
 
Longe vão os tempos...
dos alambiques para destilar,
bagos, uvas, em mil fermentos
para bagaço fabricar...
 
 
Longe vão os tempos...
das vindimas em Setembro e das uvas apanhar
rapazes e raparigas, troca de pensamentos
perdidos num amor, daquele terno olhar...
 
 
Longe vão os tempos...
das lindas moças a pastar o gado
em campos, na veiga, sorrisos aos ventos
olhando tímidas, sensualidade rural, aquele namorado...
 
 
Longe vão os tempos...
do traje de mordoma, do folclore
das danças, do vira, tão belos momentos
do saracú, ternura para quem se enamore...
 
 
Longe vão os tempos...
de levar o gado a Santo Antão
para ser benzido, atraindo sacramentos,
depois...dançar no adro e chamar a atenção...
...daquele que viria a ser namorado
um dia quem sabe, marido,
pai de um filho adorado
filho amado e homem querido.
 
 
Hoje em dia fica somente a lembrança,
restando desses tempos, o retratista,
as festas em Julho, as vindimas, esperança...
numa terna e doce, memória saudosista.
 
 
Nos que hoje aqui lembram
esta aldeia, e fizeram estas tradições,
rugas sulcam esses rostos
e lágrimas brotam dos seus corações!
 
 
Foram vocês que fizeram
aquilo que Lanheses hoje é...
foram vocês que quiseram
que Lanheses se mantenha em pé,
por isso vos felicito
entre abraços e recordações,
deste forasteiro, um mudo grito
que toque em vossos corações!
 
 
São vocês a verdadeira tradição
o ontem, o hoje, alicerces para o futuro,
pedras juntas em sólido muro
certo, o sei, serão vocês a recordação!
Aqui se cantou de verdade
este amor que é terno, por vezes,
Tradições...muita saudade...
daquilo que um dia foste - ó Lanheses!
 
 
E quem sabe daqui a uns anos
também possa eu, afirmar com serenidade
que passadas tantas lutas, por vezes tantos danos
- ó Lanheses desses tempos, sinto tanta saudade!
 
 
Estas palavras são para todos vocês, lanhesenses!


(do autor Sérgio Moreira)


 

2 comentários:

  1. Muito bonito.Adoro poesia e o senhor é um verdadeiro poeta. Parabéns!

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  2. Longe de mim achar-me como tal, gosto apenas de brincar com palavras, no entanto, agradecido pelas palavras elogiosas.

    Sérgio Moreira

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