quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O ÚLTIMO FERIADO!

O título que decidi dar a este post até poderia ser utilizado num qualquer livro de aventuras, romance ficcionado, drama ou até policial, digno de ser escrito pelas mãos do talentoso José Rodrigues dos Santos onde a sua personagem "fetiche", Tomás de Noronha, parte uma vez mais em aventuras pelo mundo, mas não; é o título de um simples tópico num blogue de um anónimo e simples cidadão (como eu existem milhares) que apesar de não ser uma alma que se reveja na religião e na fé, vê tristemente o desrespeito e tremenda falta de consideração com que os Portugueses são tratados pela elite governamental, subjugados pela ditadura do capital, pela ditadura da economia, neste dia que se quer comemorativo e onde lembramos a memória de todos aqueles que nos eram queridos e já partiram rumo ao vazio e à não existência, pelo menos física!
 
Hoje é dia feriado a nível mundial, pelo menos para o mundo cristão, onde se veneram todos os Santos e apanágio deste dia, dia de se rumar ao cemitério e prestar exéquias a quem temos sepultados nos mesmos, lembrando a sua memória e a passagem pela vida! Um dia, eu e você, que lê estas linhas, também pertenceremos a este universo invisual de seres que já existiram mas que pela lei da vida (essa não muda nem se inquieta com este ou com aquele orçamento, aquela economia, aquelas finanças) se extinguiram, pereceram, e entraram no rol de lembrados, a ser neste dia venerados! Esta é a suprema verdade a que ninguém está imune!
 
Voltemos ao mundo real! Acontece que depois da aprovação de um orçamento de estado que vai aniquilar a economia já de si pré-aniquilada, deste país, esta é uma das datas a serem-lhe retirado o epíteto de "Dia Feriado" em face e abono de uma economia que necessita urgentemente de estímulos e trabalho que a fomente e a faça fortalecer como pão para a boca...ridículo! Apostados em pôr ao serviço da economia os cidadãos, quando esta disciplina teórica foi criada precisamente para o contrário, para servir esses mesmos cidadãos, incutindo na sua vida bem estar e prosperidade, todas estas benesses são-lhes retiradas e num servilismo ditatorial a todo o nível e sem precedentes, os portugueses e portuguesas rumarão não pela última vez ao cemitério, pois todos os dias serão dias de se rumar a esse jardim mórbido onde descansam os corpos daqueles que amamos, mas sim, pela última vez, sabendo que nesse dia estão livres da jornada de trabalho e se podem dedicar na totalidade ao estímulo da alma porque, sendo dia feriado, o é para que estejam com aqueles que já partiram, em pensamento, em sentida introspecção.
 
Para o ano, como costuma dizer este PM, sempre com resposta pronta na ponta da língua e com o cinismo que lhe é conhecido, já o estou a ver, pomposo, com o cabelinho bem penteadinho para o lado, com os óculos colocados no nariz num maneirismo a roçar a demagogia intelectual, a dizer a um qualquer jornalista que o entreviste - Poder-se-á rumar na mesma ao cemitério, talvez entre um intervalo no período laboral e, o dia mais o seu espírito não acabam, apenas e somente não é dia feriado mas que continuará, por certo, a ser comemorado...
Esta (para mim) é uma visão ditatorial das coisas e antevejo para o ano, caso venha a ocorrer, cemitérios cheios de reformados e pensionistas, tenho muito respeito por esta classe da população, não estou por isso a escrever com sentido pejorativo, mas, são os que poderão rumar ao cemitério, porque a outra camada da população que gostaria do mesmíssimo modo rumar ao mesmo espaço, homenageando os entes que já partiram, estará a trabalhar! Já privam os cidadãos de amar, recordar e de homenagear! Isto não é ditadura? Então o que é?
 
Se este mundo de hoje em dia, é um mundo feliz(!?!) então, eu não quero este mundo para mim! Em vez de estarmos mais ricos e mais felizes, estamos pelo contrário, mais pobres e muito mais infelizes, devedores de uma factura com a qual não compactuamos...ou compactuamos? Compactuamos na medida em que, no dia do voto, ignorantemente, não conseguimos descortinar e separar o trigo do joio colocando no poleiro governativo os mesmos do costume, concentrados no compadrio e clientelismo, que levaram esta nação à bancarrota! Esta democracia está moribunda e desculpe lá o leitor, a franqueza com que o escrevo, mas isto de democracia não tem nada...vivemos tempos de ditadura, onde quem manda é o dinheiro, o capital, e onde o sentimento e desejos do cidadão anónimo, como eu e como você que lê estas linhas, não contam para nada, contam apenas no tal dia de voto em que está com aquele ridículo boletim entre mãos, decidindo quem o vai prejudicar mais ou menos, num futuro próximo! Trabalhar para si? Não me faça rir, esta gentinha só trabalha para ela própria...Esta democracia precisa urgentemente de ser repensada e ao invés de se mexer na constituição, como querem mexer este bando de rapazes que por aí andam a passear diplomas universitários falsos e forjados pelos corredores da Assembleia da República, deveria era ser repensada e posta ao serviço de quem realmente precisa de modo a que se irradiasse a pobreza (que aumenta a cada dia que passa neste país e no mundo) e se proporcione bem estar económico e social a todos, sem diferença ou prejuízo de muitos para o benefício de uns quantos, poucos, senhores poderosos!
 
A Igreja também não se pode lamentar e como reza a história sempre esteve do lado dos mais fortes, ao contrário daquilo que prega, estou após estas palavras escritas anteriormente, a relembrar as palavras de D. José Policarpo, para os mais distraídos, nosso cardeal patriarca, representante máximo da Igreja em Portugal, criticando menosprezadamente aqueles milhares de cidadãos que se manifestavam contra a classe política e políticas implementadas neste país...depois lamentam-se que há falta de vocações e os crentes têm desaparecido do interior das Igrejas! Como não haveriam de fugir? Com os trocos nos bolsos contados (os que os têm para contar) não sobra tempo para a contemplação celestial que estes teólogos costumam pregar! As pessoas têm mais com que se preocupar e se Deus realmente existisse, já teria há muito descido dos céus e agido, ao ver o horror e a falta de humanismo pela qual se patenteia e norteia, o ser humano dos tempos modernos! Exemplos? Posso dar três...vejam o que aconteceu no século XX aquando da Segunda Grande Guerra onde morreram mais de setenta milhões de inocentes, o Holocausto (que muitos ainda negam) e os milhares de crianças por este mundo fora, que todos os dias são vitimas da atrocidade e ferocidade do homem (diga-se inteligente)...um ser que se preocupa com a vida em Marte e qualquer dia está lá fisicamente, mas que no seu planeta deixa crianças a morrer à fome ou a serem violadas por um qualquer mentecapto! Estranha inteligência, esta!
 
Este é o mundo feliz? Tenham lá santa paciência! É o mundo que temos hoje em dia e que me leva a dizer que na pré-história, mesmo vivendo meia dúzia de anos, sem linguagem, sem escrita, quase sem nada, comparados com aqueles com que um homem pode hoje em dia viver saudavelmente e tudo tem ao seu dispor, aqueles homens e mulheres viveram felizes, mesmo sem saberem o que era felicidade, quando a razão lhes toldou o cérebro começou o retrocesso civizacional, que dura ainda nos dias de hoje...
 
Um mundo feliz para mim e uma democracia com sentido, seria, acordar hoje, feliz, sentir-me realizado profissionalmente e bem economicamente, assim como todos os que me rodeiam e mesmo todos os outros, sabendo que hoje para o ano e passando, o trabalho e compromissos pessoais ficariam em segundo lugar, porque este dia é devotado à meditação e que a economia, que vem funcionando correctamente, nos permite a todos (neste dia) ficar por casa e pelo cemitério homenageando aqueles que já partiram! Talvez uma visão utópica e a que nunca lá chegaremos! Pode disso, me acusar o leitor! Em resposta pergunto - Então o que andamos aqui a fazer?
 
Para o ano estarei a trabalhar (se vivo for) porque, acontece é tudo o resto que não mencionei nas linhas escritas anteriormente...caso tenha perecido, somente terei a homenagear-me os meus pais, caso sejam vivos também, na sua qualidade de pensionistas, pois talvez, aquela que escolhi para minha esposa, tenha (como terá) de estar a trabalhar e nem sequer tenha direito ao necessário tempo para se lembrar de mim...e recordar, homenagear!

Isto é de uma desumanidade gritante!
 
 
Bom dia de Todos-os-Santos! O último como feriado!
 
 
 

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