terça-feira, 6 de novembro de 2012

UM ENCONTRO ACIDENTAL...

Enquanto percorria os caminhos da veiga em demanda de cogumelos para serem fotografados e após, poder colocar aqui no blogue, essas fotografias, tive junto a um dos charcos que ocorrem na margem do Lima, um encontro com um ser vivo espectacular, quer pelo seu tamanho avantajado, quer pela sua singularidade. Trata-se de um cágado, um cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa), que se encontrava junto a um dos charcos que por ali ocorrem apanhando um banho de Sol. Tive oportunidade de pegar nele, segurar e analisar atentamente e se inicialmente o animal não se sentiu incomodado com a minha presença e com os disparos do obturador de Fuji, quando o peguei adoptou aquela típica posição de defesa, que adoptam estes animais, recolhendo todo o corpo para o interior da sua escura carapaça.
 
O cágado-mediterrânico é uma espécie autóctone de tartaruga da Península Ibérica; chamam-se cágados a todas as espécies de tartarugas que vivem junto a habitats de água doce de águas lentas ou paradas, desde charcos, cursos de rio, lagoas, etc. e podem viver até cerca de 35 anos. A sua distribuição geográfica ocorre por toda a Península Ibérica, sul de França e norte de África, nomeadamente Marrocos e Argélia. A reprodução dá-se sobretudo na Primavera e em menor grau no Outono, onde, após a postura de 1 a 12 ovos depositados num buraco cavado pela fêmea nascem as crias passados 50 a 80 dias. Atingem a maturidade sexual por volta dos 2 a 4 anos, os machos, e 6 a 8 anos as fêmeas, por isso a sua taxa de natalidade por vezes é baixa. Em Portugal encontra-se bem distribuído por todo o país, com mais incidência no sul e encontra-se no leque de espécies que não apresentam perigo de extinguirem, ao contrário de outra espécie de cágado que ocorre no nosso país, o de carapaça estriada (Emys orbicularis) que se encontra ameaçado de extinção, sendo portanto, abundante. É um predador voraz, carnívoro, (embora se alimente também de vegetais) que se alimenta de pequenos peixes, pequenos crustáceos, outros anfíbios e répteis, sendo por sua vez presa de variados predadores, nomeadamente de garças, corvídeos, cegonhas, aves de rapina e até por alguns mamíferos, como a raposa e a lontra.
 
Eis o exemplar que fotografei.
 
Escondido na vegetação.
 
  
Com curiosidade a observar-me. A mancha alaranjada que ocorre na cabeça permite identificar com facilidade esta espécie.
 
 
Pormenor da cabeça, carapaça e patas volumosas.
 
 
 
Adoptando a típica postura defensiva.
 
 
Pormenor da cloaca (órgão reprodutor).
 
 
Pormenor da carapaça onde se podem ver nas patas enormes garras.
 
 
Depois de todas estas fotografias, como é óbvio, voltei a colocá-lo no local onde estava e afastei-me para não importunar a sua actividade. Ao divulgar estas fotografias não pretendo de todo que as pessoas vão agora rumar à margem do rio na tentativa de apanhar um destes animais, tão em voga hoje em dia, como animal de estimação, de modo a levarem um exemplar para casa. Não se esqueçam, é nosso dever cívico, o de proteger a natureza e fomentar a biodiversidade, portanto, vejam, analisem, mas por favor, se encontrar um destes animais no seu caminho, restitua-o à natureza, o lugar onde pertence, não em casa, num ridículo lago artificial, onde mais cedo ou mais tarde o pobre bicho morrerá. Uma fenómeno que ocorre amiúde com desconhecimento em geral é o de que estes animais hibernam e muitas vezes pela notória falta de actividade que o bicharoco apresenta, pensam, as pessoas, que o mesmo morreu e desfazem-se dele! Errado! Por este motivo muitos morrem! Lembre-se, caso recolha um da natureza (o que não deve), de que entre Outubro/Novembro e princípios de Março/Abril (quando acordam do seu sono invernal) estes belos répteis hibernam, pelo que não devem ser incomodados e deixá-los normal e naturalmente viver o ciclo que a natureza lhes impõe!
 
Agradecido!
 
 
 

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