segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Gil Eannes!

Deslocando-me a Viana do Castelo, para tratar de alguns assuntos relacionados com o peludo mais pequeno e enquanto esperava pelo mesmo, decidi dar uma volta caminhando à beira rio, até um dos locais na cidade que mais prazer me dá visitar. A frente ribeirinha da nossa bela cidade e a antiga doca de pesca, onde há muitos anos atrás, atracavam os grandes bacalhoeiros vindos dos bancos gelados da Terra-Nova e da Gronelândia, onde mareavam mares gelados, em busca e na pesca do "fiel amigo", apreciado petisco nas mesas portuguesas e do qual eu, também, um confesso e acérrimo apreciador deste peixe capturado nas águas do Atlântico-norte. Talvez o leitor, como eu, se lembre, há já muitos anos atrás, ancorados na doca, destes gigantes dos mares, que fizeram um dia parte da grande Empresa de Pesca de Viana e que nos aguçavam a curiosidade e provocavam, (tal como a pessoas como eu, na altura um gaiato) espanto, muito espanto, pela sua colossal presença ali atracados. Santa Maria Madalena, Senhor dos Mareantes, São Ruy, Santa Luzia, entre outros, eram alguns dos grandes navios que regularmente chegavam à doca de Viana, carregados de bacalhau. Havia no entanto, um destes grandes navios, que se destacava dos outros pela grande cruz vermelha que figurava e ainda hoje figura, na sua chaminé. Escrevo acerca do navio-hospital Gil Eannes, que deu durante anos, apoio hospitalar e logístico aos seus grandes "primos" que se aventuravam por mares longínquos. Já todos sabemos a história deste navio, resgatado pela edilidade vianense ao sucateiro em Lisboa, que se preparava para o desmantelar, com o apoio monetário da comunidade vianense, várias das suas instituições e empresas particulares. Hoje em dia, resgatado a um fim triste e inglório, repousa imponente na mesma doca, que tantas vezes o acolheu vindo das suas longas viagens, tendo sido transformado em pousada e museu. Um fim glorioso para um barco carregado de história, contrariamente ao que aconteceu aos seus outros "colegas de milhas mareadas", que, ou por afundamento ou desmantelados, tiveram um fim indigno, para algo que custa tanto dinheiro quando construído, mas fundamentalmente, compõem um legado histórico da frota pesqueira e marítima deste país, que continua a valorizar muito pouco o seu património! Para mim, confesso admirador de navios, é doloroso constatar, sempre que um destes grandes barcos é desmantelado, o triste processo, que é ver a sua lenta destruição, numa qualquer doca ou estaleiro do mundo! Veja-se por exemplo, o destino dado a dois dos (considerados) mais belos paquetes do mundo, à época, e que eram propriedade da extinta "Companhia Colonial de Navegação", os N/T Santa Maria e Vera Cruz, que em fim de vida foram adaptados ao transporte das nossas tropas para a guerra no ultramar; o meu pai, embarcou em 19 de Abril de 1969, a bordo deste luxuoso paquete (VERA CRUZ) e ainda hoje, lhe choram os olhos quando se lembra destas viagens, ida e volta e fundamentalmente da espectacularidade deste grande barco! Caricato a sua última viagem ter tido como destino a China, mais própriamente um estaleiro onde seria posteriormente desmantelado! Quem de entre nós, gostaria de encetar um dia, uma viagem, sabendo que o destino final seria a morte? Ninguém, por certo! Ou então, só um louco!

Mas, o que me importa referir é o "nosso" Gil Eannes, construído nos E.N.V.C. e que repousa na cidade que o viu "nascer" para os mares! Munido da Fuji e circulando pela zona, não consigo deixar de escrever este tópico e postar as fotografias que lhe tirei, numa nebulosa manhã de Outono. Cá ficam então.



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Três ícones de Viana, o Gil Eannes, a estátua do navegador João Álvares Fagundes e ao fundo, Santa Luzia! 
 
 
 Uma presença imponente!
 
 
Sempre fantástico!
 
 
 Pormenor do leme duplo.
 
 
Portugal, que foi em tempos um dos países com uma das mais diversificadas e completas frotas pesqueiras do mundo e de paquetes também, hoje em dia, em termos marítimos, não passa de uma sombra do que foi em tempos idos; tempos gloriosos esses, os tempos quando os grandes bacalhoeiros nacionais sulcavam os gélidos mares do norte, e a doca de Viana fervilhava de vida, ou até os paquetes, como o Vera Cruz, Santa Maria, Funchal e Infante Dom Henrique, por exemplo, poderiam ser encontrados em qualquer ponto do globo terrestre, numa das grandes travessias que costumavam operar...hoje em dia já nada disso existe, tudo foi desmantelado, tudo foi vendido para sucata...destino inglório e vão, para o material relacionado com o mar, de um país que se diz de marinheiros...
 
 
Que pena me dá, pensar assim! Resta o bom exemplo dado com o navio Gil Eannes (salvo pela população vianense) e com mais dois ou três exemplos semelhantes, mas raros!
 
 Portugal, é hoje em dia, um país à deriva...
 
 
 

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