terça-feira, 29 de janeiro de 2013

SABORES de INVERNO. Foi assim...(2ªparte).

(continuação)

Montalegre é uma vila raiana, localizada ente serras, Barroso, Larouco, a espanhola sierra del Pisco e Gerês, localizada a poucos quilómetros da fronteira com a vizinha Espanha, composta por muitas ruinhas estreitas e sinuosas, que levam quase e sempre o mesmo sentido, no alto da vila, a um promontório rochoso, como tantos outros que existem neste país, e que como todos esses outros, alberga um castelo, ou o que resta dele, aliás, como todos os demais seus primos espalhados por este Portugal. Quem circule pela EN103, distraído que irá certamente com a beleza da paisagem, não vê nem se apercebe, as fragas do Barroso tal não o permitem, que Montalegre possuiu um castelo no seu topo, sobranceiro na paisagem, pois nessas épocas de guerrilha e de conflitualidade entrem reinos, os castelos estavam orientados sempre para o lado de onde poderia vir mais perigo e este, de Montalegre, sem que se veja do lado nacional, situado a uma cota mais baixa da franja de montanha que se lhe antecede antes de se alcançar o povoado, tem no entanto sobre a paisagem raiana virada para tierra de nuestros hermanos vista priveligiada e por isso, em alto promontório, virado para Espanha, é soberano na paisagem. Ao olhar para ele, o autor do blogue, sente sempre uma desmedida inveja por tal espectro passar os seus dias de manhã à noite acordando e adormecendo a olhar para a imponência do roliço pico da serra do Larouco a Este e, se em branco leito se virar, como quem muda a posição durante o sono, ficará a mirar os picos mais altos e recortados da serra do Gerês! O autor do blogue não é homem de invejas, mas que inveja este castelo, essa é mentira que a ninguém não quer pregar! Montalegre mais parece um pequeno oásis neste deserto bravio que é o Barroso!

No entanto, a vila tem crescido na sua periferia, com alguns prédios, não muito altos, embora a descaracterizar um pouco, tão típica vila raiana. Marcas do passar dos tempos, que o tempo vem moldar. Prova disso, uma vistosa e horripilante, tal como todas as outras suas primas espalhadas por este país, loja de produtos chineses, onde de tudo se vende, onde tudo está a monte e a monte nada se dá...Outra marca do passar dos tempos o grande complexo multiusos construído mesmo no centro com olhar privilegiado para o castelo, composto por modernas fachadas que decompõe as fachadas em redor das típicas habitações montalegrenses, mas que o autor do blogue entende, como marca que crie dinamismo económico numa parte deste país tão esquecida e tão marginalizada. O autor do blogue sabe o quão difícil aqui nesta paragens é, a difícil vivência destas gentes, e disso  se compadece, talvez desculpando, tamanha aberração urbanística construída mesmo no centro da Vila de Montalegre.
Longe vão os tempos em que o autor do blogue para aqui vinha no seu primeiro veículo automóvel, [atrás de paz e de natureza bravia], um vetusto VW Golf de cor negra que consumia mais óleo que gasóleo, mas que funcionava na perfeição e fazia notávelmente, por vezes até, papel de todo o terreno, pese embora  a baixeza do seu esqueleto e o único terreno a que se destinasse fosse o piso alcatroado da estrada, não o dos caminhos de terra...
Como era diferente Montalegre há dezoito, vinte anos atrás...como!!! O autor do blogue jamais esquecerá a primeira vez que Padre Fontes lhe disse adeus, ao volante de um antigo Mercedes cinzento tipo 300d, feliz e sorrindo, com aquele sorriso de quem feliz segue com a vida e feliz se sente por estar vivo e viver! Ou em Vilar de Perdizes, na estrada, conduzindo, guiado por um milhafre que esvoaçava frenético em frente do vetusto Golf negro, por entre frondosos campos de cor de palha...

O tempo passa célere, somente restando memórias e mesmo essas, se extinguirão, quando vivo corpo, morto for. Fontes não será jamais esquecido, viverá para sempre, enquanto a pessoa do autor do blogue ficará esquecida ou até, nem lembrada venha a ser. Por isso, aqui fica assim escrito e feliz fique, o autor do blogue, por saber ou imaginar, que talvez venha um dia por alguém a ser lembrado e possa também como Fontes, viver para sempre! O autor do blogue confessa que gostou particularmente desta última frase!
 
O Mercedes, descendo a sinuosa avenida principal, deteve-se com a devida autorização dos agentes da lei, em frente do Pavilhão Multiusos de Montalegre para que os sessenta lanhesenses saíssem e entrassem logo de seguida e rapidamente no pavilhão, pois do céu ainda caia uma chuvinha inclemente. O autor do blogue, começava a ficar irado com os técnicos da meteorologia que afiançavam, segundo as previsões, que no final da manhã o céu se destaparia e alguns raios de Sol, brindariam os turistas. Nada de mais errado, continuava a chover! Explicações dadas pelo autor do blogue ao microfone do Mercedes e tempo livre para almoçar, para visitar e se deliciar com a gastronomia Barrosã. Ir ao castelo quem quisesse ou dar um passeio pelas ruelas de Montalegre. Cumpria-se assim o terceiro ponto de paragem, a visita à XXII Feira do Fumeiro e do Presunto do Barroso.
 
Quem entrasse no recinto do pavilhão logo seria brindado com tépido odor no nariz provocado pelas centenas de peças de fumeiro penduradas em barraquinhas de madeira, que albergavam os expositores e produtores de toda estas iguarias barrosãs. Não sem contudo se prender de amores por uma bela imagem feita em cera, à moda do museu Madame Tussauds em Londres, exposta à entrada à esquerda, retratando ilustre personagem da vivência real destas comunidades raianas, não menos real, tal o aspecto verdadeiramente humano que a cera dá a falsas feições, desprovidas de tão falsa vida! Padre Fontes, usando longa batina negra da cabeça aos pés, numa analogia às tão famosas, por aqui e por todo o país divulgadas, noite das bruxas, normalmente festejadas todas as sextas-feiras dia 13! Este homem simples de sorriso franco e fácil, é o logótipo desta região e esta estátua feita de cera, lhe faz justa homenagem, a homem que já nem precisa de homenageado ser, tal a sua grandeza de espírito e de carácter, sobejamente homenageada durante anos e anos! Fontes está para o Barroso e para toda esta região afastada do mundo, como Amália está para o país e para Lisboa!
 
 
Estátua de Padre Fontes.
 
 
Alegoria às tão famosas "Noite das Bruxas".
 
 
Subindo ao primeiro andar por bordada escadaria a granito da região, os olhos detêm-se e vêem centenas de milhares de chouriços, chouriças, presuntos, cabeças fumadas de porco, costela, pés (presunhos) e todas as demais iguarias que advêm do animal, que morte desgraçada sofre, embora ícone desta região. Este é o tão famoso fumeiro e o autor do blogue perante todas estas barraquinhas em madeira, delicia o olhar e odor, que reina nesta quente atmosfera, pese embora, frio tempo que se sentia no exterior do pavilhão. O autor do blogue confessa, mesmo caindo no risco da gente barrosã não lhe perdoar o sincero desabafo, que idealizava uma mostra gastronómica ainda maior e a ausência total de restaurantes improvisados, onde se servissem bravios pratos de suculentos petiscos à moda barrosã, desiludiram-no um pouco. À boa moda alto-minhota em qualquer festa ou mostra gastronómica logo se monta ali arcaico restaurante, pronto para ser fechado pelos ignóbeis técnicos da ASAE! A nossa costela mais alto sempre fala, é certo, e isso o autor do blogue não consegue ignorar! Pese o desabafo, a feira foi toda analisada e claro está, numa verdadeira ode aos altos indices de colesterol no sangue, o autor do blogue atirou-se a uma frugal bola de carne, onde abundavam o toucinho e nacos de opulento chouriço, acompanhado de maduro tinto da Régua, caseiro, mas divinal, embriagando embriagados sentidos, que se perdiam nesta mistura de odores e de paladares desta mostra gastronómica! Uma frase que por estas alturas não escapa ao olhar do autor do blogue acompanhada por malicioso sorriso, de quem malicioso não é, é a seguinte: - Licor Levanta o Pau - e claro está, vir a Montalegre e não tentar (pelo menos) levantar o pau uma única vez, é o mesmo que ir à pizzaria e pedir um prato de sardinhas! (risos)
 
 
 
 
 
 Animação local.
 
 
 Fumeiro em exposição...
 
SABORES de INVERNO
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Licor de Vilar de Perdizes...visite esta aldeia, a aldeia do Padre Fontes.
 
 
Numa desesperada luta com esta bola de carnes...que delicioso manjar!!!
 
 
 O homem das castanholas, Tio Belarmino, a sorridente Tia Rosa e o sempre alegre Pedro.
 
 
 Tá-se...
 
 
O motorista de serviço após recusar copo de maduro tinto, assim manda a lei e manda o sentido de responsabilidade. 
 
 
O autor do blogue, tinto maduro, não recusa! A alma, por vezes, quer-se difusa!
 
 
À saúde amigos...
 
 
Vermelha brasa em branca paisagem que bem que sabe em fria viagem!
 
 
Todos à mesa onde o tenro presunto e o suculento chouriço, eram reis!
 
 
O autor do blogue estranhou também que para certame tão participado fosse notória a ausência de muitas e mais mesas e cadeiras, que albergassem devidamente os visitantes desta mostra gastronómica, ainda por cima publicitada por quem de direito, sempre como mostra gastronómica visitada por mais de cinquenta mil pessoas! Uma grave lacuna a solucionar por parte da organização deste belo certame! Vinte e dois anos organizativos não desculpam erros infantis! Outro pormenor audacioso, no mínimo, o facto de em dias de grande afluência turística, como estes, os visitantes aperceberem-se de que os restaurantes em redor do certame aceitavam reservas de mesa! Incompreensível! O autor do blogue acompanhado por quem lhe era familiar, encontrou restaurante a condizer, com ruralizado aspecto e muito bem apetrechado, com mesa disponível para o seu grupo, uma sorte em dias de azáfama, no entanto decepcionado ficou, ele e todo o grupo, quando se aperceberam que a mesma estava reservada!!!
Razões as há que o coração desconhece, quando a alma, enfim, logo e rapidamente se enfurece! Montalegre é terra para bem receber o turista longe destes dias de desassossego, coincidentes com a festa do fumeiro e pela primeira vez, o autor do blogue se decepciona com Montalegre, pela mesmíssima primeira vez o autor do blogue realiza e se apercebe que em dias como estes, terra bravia, jamais sentirá sola de seus sapatos! O autor do blogue continua a abominar as grandes multidões...
 
Estavam cumpridas as horas destinadas a esta visita e já mais abaixo o Mercedes esperava estes lanhesenses que se deliciaram e apetrecharam com as delícias das suculentas carnes barrosãs, sem que contudo algumas vozes criticas se fizessem ouvir, pelo pouco tempo que estariam no fumeiro, porque, e a mente humana mostra-se a cada dia que passa mais e mais prodigiosa em subterfúgios, queriam ver um afamado programa de TV que estaria prestes a ir em directo para o ar! Então iríamos privar-nos de ver tão belas paragens, tão belas paisagens e conhecer uma das mais inóspitas aldeias de Portugal, Pitões das Júnias, em troca de ver cadavéricos seres de tão magros que são, rodopiando num palco como rodopiam as pás de um moinho ao som do vento sem que saibam para que mais servem, senão para isso? O autor do blogue há muito está irado e de costas voltadas para a fraquíssima televisão privada que temos em Portugal, mas de modo a não ferir susceptibilidades porque o mesmo, susceptível não é de ferir sentimentos a ninguém, propôs que quem pretendesse ficar pelo fumeiro e ver a Iva não sabe das quantas, mais o Nuno não sabe de quê, ficasse, pois em seguida à visita a um dos tectos do nosso país, Pitões e os píncaros do Gerês, o autocarro retornaria a Montalegre para os apanhar!
 
Sorrindo para consigo próprio, o autor do blogue, após a contagem de cabeças em cada um de seus lugares a bordo do Mercedes, realizou que ninguém optou por ficar para trocar espectáculo degradante, por grandioso espectáculo que a muitos e humanos olhos se iria apresentar em breve, o tremendo e belíssimo espectáculo da valsa da natureza, rainha brilhante por estas bravas paragens...
 
Montalegre ficaria para trás e o fumeiro, perdoem os montalegrenses e habitantes do Barroso, a franqueza do autor do blogue, não deixaria saudade na mente do mesmo...que do que viu e provou, gostou, mas só realmente valor lhe dá, quando no coração se lhe dá um aperto e a saudade floresce ao fim de poucos segundos da hora da partida. Essa saudade, a vermelho coração, em peito encaixado, não floresceu...
 
 
Adeus a Montalegre...
 
O olhar do autor do blogue girava agora para a sua direita e para os escarpados picos da mais alta parte do Gerês, em Pitões, aldeia mais inóspita do país, onde ainda hoje em dia se vive muito do comunitarismo e onde os habitantes têm a ditosa fama de não precisarem de ir a detestável hipermercado para rechearem os armários de casa com os haveres necessários a humana sobrevivência e esta, considera o autor do blogue, é uma das riquezas maiores de que humano ser, se possa vangloriar!
 
A sobremesa iria em breve ser servida e talvez bem mais deliciosa que o almoço, Pitões das Júnias esperava um certo autocarro Mercedes de cor avermelhada, pejado de lanhesenses para visita guiada. Entretanto, a bordo a cantoria era muita e a animação total, com a miudagem que participou neste passeio turístico a delirar quando o autor do blogue, ao microfone do Mercedes anunciou:
 
- Miudagem peço a vossa atenção, à vossa direita já vemos os mais altos picos do Gerês e como podem ver estão branquinhos e cobertos de neve...!!!
 
Um coro de jovens vozes explodiu pelo Mercedes fora e fitando esta paisagem que tanto admira e tanto lhe diz, o autor do blogue, para si sorriu e desligou o microfone...
 
 
(continua no próximo post)
 
 

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