quarta-feira, 12 de junho de 2013

ENCANTOS da PRIMAVERA - A VIAGEM "MOCHE"...3ª e última parte.

A VIAGEM CONTINUA SEMPRE...A VIAGEM NÃO TERMINA NUNCA!

Noite alta em pleno vale do Côa e alguns dos mais resistentes não dormiam. O ambiente extremamente relaxado que se vivia no interior da pousada, deixava alguns colados ao travesseiro, cansados das andanças do dia que se passou viajando pelo nordeste trasmontano, outros em últimas conversas no interior dos quartos que lhes estavam destinados resistiam a um sono que muito tardava em chegar tal a excitação de privar com os amigos pela noite fora, e aqui se vê pelo exemplo onde está a verdadeira amizade e um resistente, o tal viajante-mor, só no salão bar da pousada relembrava tudo o que tinha perspectivado para que o último dia continuasse pautar pela quase perfeição...esse outro, era o autor do blogue, que entre copos de adocicado champagne, lá resistiu até onde pôde e por fim resolveu deitar-se...tirando o roncar trepidante de alguns homens mais vigorosos no ronco, bela sinfonia se ouviu no quarto 02, reservado aos homens, lá cerrou os olhos para manhã cedo acordar bem disposto passados uns trinta a sessenta minutos de sono, dar os bons dias a quem já tinha acordado e preparar-se para tomar o pequeno-almoço. Mais uma refeição amplamente bem servida pela Pousada da Juventude de Vila Nova de Foz Côa, excelente no serviço que prestou, pese embora o estranho facto de se nomear - Movijovem em Liquidação - ...estes governantes andam claramente a dormir em pé, ou então terão alguma espécie de secreto acordo para destruir por completo este país!!! Uma pousada como esta, que presta um serviço de fazer inveja a qualquer hotelzeco de beira de estrada está para ser liquidada?...Só em Portugal...adiante!
 
Pequeno-almoço tomado, café da manhã também e lá vai o primeiro cigarrito do dia...e que bem que soube este cigarro! Ao abrir a janela de alumínio de acesso ao pátio exterior para fumar o tal cigarro, perante o olhar do autor do blogue uma explosão de cores rebentou com a tremenda beleza que emana das terras do Vale do Côa, terras na sua essência totalmente beirãs! O autor do blogue como pessoa educada que é, em silêncio deu, uns educados bons dias a toda esta natureza luxuriante que se lhe deparava perante o olhar, comovido por ainda restarem neste pobre e devastado país, recantos de tanta beleza como estes que se vêem em Foz Côa...
 
Vale do Côa visto da pousada.
 
 
Fachada da pousada, alçado norte.
 
 
Paisagem tipicamente beirã...
 
No arranque para este segundo e último dia do "Encantos da Primavera" estava destinada a visita a Vila Nova de Foz Côa para quem o preferisse, em detrimento da visita ao Museu do Côa e ao património da humanidade, as gravuras rupestres. Um pequeno grupo optou por ficar pela vila, enquanto a maioria optou pela visita ao Museu. Apeados os primeiros, tempo de cruzar as ruelas de Foz Côa e uma primeira impressão ali logo teve o autor do blogue, Foz Côa pequeno lugarejo perdido nas colinas das montanhas beirãs estava ao Domingo deserta de gente, tal como se vinha verificando há já muitos quilómetros atrás desde o mais profundo interior trasmontano...terrível aquilo que está a acontecer a este país com o interior à beira da desertificação total!
 
Mas não é de desertos que o autor do blogue tem de falar, mesmo que certos desertos povoados de casario mereçam desertificante menção, como este em Foz Côa, é do Museu que importa falar e relatar tudo o que no seu interior se aprende acerca de nós, ser humano, e da ancestral ocupação destas terras por várias espécies de hominídeos anteriores ao Homo sapiens!
 
 
 
À entrada do Museu do Côa.
 
 
 
Entrada do Museu do Côa.
 
 
Pormenor.
 
 
O edifício que serve o Museu do Côa é uma notável obra de arquitectura onde se repara que o arquitecto aplicou todo o seu conhecimento estético paisagístico de modo a enquadrar com toda a natureza e paisagem envolvente, semelhante monólito de enormes formas rectangulares e longilíneas, construído em betão forrado a mármore moleanos (talvez aqui neste campo merecesse um material mais xistoso e típico da região, é só a opinião de quem escreve) e mal o viajante percorre o exterior corredor inicial tem a ilusão óptica de que o mesmo afunila de tal maneira ao fundo que uma pessoa de proporções mais fortes e largas talvez não consiga passar!...
 
Pura demagogia, todos passam mesmo os mais fortes!!! À entrada os viajantes são recebidos por uma delicada nas formas, mas linda mulher, de voz fina e delicada tal como as formas que lhe marcam  o corpo, resultando num harmonioso conjunto humano, para que atenda humanos olhos em demanda de um ingresso de entrada. Formalismos de aquisição de bilhetes ultrapassados com as crianças até aos 12 anos de idade a terem direito a entrar gratuitamente, o caso dos três caçulas da excursão, os reformados a pagarem meio ingresso e todos os outros, bilhete normal, com surpresa o autor do blogue, bafejado pela sorte, vê-lhe sair na rifa o direito a um guia para conduzir a "viagem" de trinta mil anos pelas salas do Museu do Côa. Saiu a este grupo em sorte o Dr. José Pedro e em breve o leitor entenderá a aplicação do termo "sorte"...
 
Iniciava-se assim a visita ao Museu do Côa com o guia José Pedro a introduzir e explicar o que se via na primeira sala em que entraram os viajantes. Obviamente aqui não vai ser feito um relato alargado de tudo o que se viu e ouviu no interior das amplas salas do Museu, no entanto será de referir a excelente explicação dada pelo guia, notoriamente sabedor e muito bem, de tudo quanto falava e explicava, denotando muita cultura geral assim como muita inteligência, ao fazer comparações perfeitamente plausíveis entre as matérias relacionadas com o homem e a arte do paleolítico, entre as matérias que roçavam a religiosidade, a satisfação natural das necessidades primárias que quando satisfeitas tal como o homem moderno, deram azo a que o homem pré-histórico também produzisse o que hoje em dia se considera e muito bem como arte! Arte paleolítica! Uma visita guiada que duraria uns quinze minutos tornou-se numa visita de duas horas, tal a excelência do guia que calhou em sorte a este grupo (a tal sorte), assim como da parte dele antevendo a extrema atenção que todos lhe dedicavam, mereciam explicação alongada! No final foi saudado pelo viajante-mor e gratificado tal a excelência do serviço que gratuitamente prestou!
 
Nesta matéria das viagens, homens existem que em belas horas são belissimamente encontrados e este, para este grupo, revelou-se precioso. A visita ao Museu pautou-se pelo sucesso e no final todo o grupo de visitantes lanhesenses manifestava tremenda satisfação.
 
 
O guia José Pedro explicando aquilo que se visitava.
 
 
Réplica de painel com gravuras rupestres.
 
 
Voz grave e tremendamente segura nas explicações que eram dadas. Fenomenal!
 
 
Auroque - um dos grandes animais de então. Ancestral do actual Touro Bravo representado à escala real.
 
 
O mais importante dos painéis com gravuras, o que se situa no sítio do fariseu. Réplica.
 
 
Representação de como era a moradia de um hominídeo de então.
 
 
 
À saída...
 
 
Esqueleto de hominídeo encontrado no Vale do Côa.
 
 
Enquanto se ultimava a visita o viajante-mor teve necessidade de se ausentar para comunicar com o grupo menor que ficou pelo centro da vila, e destemidos olhos em boa hora decidiram por breves momentos observar a paisagem que se lhes deparava em frente, de uma beleza singular, com o Douro e o Côa enlaçados um no outro, a velha e abandonada como tantas outras por aqui, estação de caminhos de ferro do Côa, ao fundo, junto às escuras águas do Douro e sobretudo a tranquilidade que emana do silêncio da paisagem. O autor do blogue levando um cigarro aos lábios começa a sentir-se um homem de silêncios, silêncios que nada têm de absurdo, quando como estes que vive se pautam pela silenciosa contemplação! Quem a estas paragens se dirige entende o porquê de nos idos de noventa a construção de uma barragem ter sido posta de parte tendo em vista a preservação de tão singular património que nos mostra e nos faz entender a génese do ser humano, nos faz conhecer como somos e o que somos...de onde vimos e se não respeitarmos o passado, para onde infelizmente caminhamos...
 
Deveria ser obrigatório, tal como o recenseamento eleitoral o é, sendo por certo menos importante que este património; uma vez na vida ao cidadão português vir ao Côa descobrir-se, talvez até, tal como o cidadão árabe a Meca vai pelo menos uma vez na vida...
 
 
 
Estrada serpenteando as colinas do Côa tal como a serpente serpenteia no campo, com o Douro ao fundo.
 
 
Magnífica paisagem, num mundo de silêncios...
 
 
Esplanada que serve o restaurante do Museu do Côa. Clique na imagem para ampliar.
 
 
Pormenor do rio Côa e ainda nas encostas das montanhas vestígios do que seria a construção da barragem.
 
 
 
Alçado nascente do Museu.
 
 
 
O caçador-colector Filipe, mostrando todo o seu aspecto guerreiro...com flecha de pedra lascada(risos).
 
 
 
O adeus do Moche, ao Côa...
 
 
Hora livre para almoço. Espalhados e divididos em grupinhos menores, este grupo de viajantes foi ocupando os restaurantes de Foz Côa e o autor do blogue assim como mais alguns optou pelo restaurante "Volante", não pela fama da casa, pois se a tinha, a mesma ao viajante-mor era até desconhecida, mas por ser o mais próximo e que mais facilmente se encontrou. Em boa hora no interior daquelas quatro paredes caiadas de tons ocres, entrou...
 
À zona de restaurante acedia-se pela zona de café, uma ampla sala decorada com mesas e cadeiras tipicamente de café, aquelas mesmas mesas e cadeiras que não têm nada de belo, mas que também na mesmíssima proporção nada de horrendo têm! Puras e simples mesas de café. Já a área reservada a quem queria almoçar ou jantar, consoante o caso, embora neste se tratasse de almoçar, apresentava um aspecto mais cuidado, separada da área do café por gigantesco biombo em forma de gradeamento bastante estilizado, deveras agradável ao olhar, onde umas cerca de vinte mesas geometricamente alinhadas esperavam os clientes.  Ao verificar as poucas meses que um restaurante como este dispõe para servir refeições, o viajante mais atento tem logo ali a percepção de como o interior do país se encontra desertificado...por certo o movimento semanal será diminuto...
 
Salvem Foz Côa e a sua economia local, algumas ordas de viajantes que por aqui vêm procurando conhecimento! Muitos são os seus habitantes que acham que as gravuras nada trouxeram à sua vila, contrapõe o viajante-mor com o simples facto de escolher Foz Côa para que figurasse no roteiro deste "Encantos da Primavera" e sessenta viajantes com ele viessem em demanda de um património secular e singular trazendo com eles os tão necessários euros que dão pujança a esta esquelética economia local. Se tivessem a barragem, com toda a certeza Foz Côa se veria riscada deste roteiro de viajantes e também os mesmo euros...dá que pensar, aceite o leitor as evidências e os habitantes de Foz Côa que possam eventualmente, o que muito sinceramente o autor do blogue duvida, ler estas linhas de palavras...
 
Um tanto ou quanto saturado dos sabores da carne, o viajante-mor acompanhado por quem lhe é muito próximo e familiar, optou por um prato de bacalhau à moda da casa e se o gosto é estranho por em terras do interior optar por um prato de peixe, revelou-se extremamente acertado, pois o petisco estava divinamente cozinhado!
 
E o viajante-mor continua com aquele olhar felino ao qual os pormenores não escapam, mesmo os mais ignóbeis! A escanzelada criatura que servia as mesas revelava-se um mistério para curiosos olhos! Conseguindo ser minimamente simpática ao mesmo tempo mostrava um rosto pesado, regido pela austeridade, semblante carregado, aliado a uma forma de trajar toda de negro, da cabeça aos pés! Cabelo negro de corte moderno e curto, justo vestido negro também ele curto, collants negros e sapatos negros...Algo de estranho perturbava aquela mulher de andamento gracioso e leve enquanto servia os viajantes sentados à mesa, mas com rosto de pesar, rosto que transmitia dor e o viajante-mor a isso não ficou imune...ao mesmíssimo tempo, num recanto da sala decorada em tons ocres várias fotografias ornamentadas com variadas flores, de um jovem que não teria mais de doze anos, compunham uma espécie de altar-mor, mesmo ali em pleno restaurante e fazendo a soma dos dois factores, mulher de negro vestida e austero aspecto, juntamente com a espécie de altar-mor plantado na sala de restaurante o viajante descortinou que aquela mulher viva um pranto...aquela mulher, aquele casal do restaurante "Volante" tinha perdido o filho, ou um filho!
 
Não haverá certamente dor maior para um pai e uma mãe do que a dor de perder carne que pôs no mundo, perder um ser a quem vida deu, ser esse que com a sua vida é mais que motivação para enfrentar essa mesma vida, ganhando esta outro significado! Que significado teria agora a vida para esta mulher? Talvez nenhum! Reflectindo agora passadas horas, e lembrando quando a dita mulher deixou um seco sorriso na mesa, o autor do blogue, o tal viajante-mor, acha-a a mulher mais simpática do mundo!
 
Aquele rosto toldado pela dor, embora com extrema coragem enfrentando a clientela, jamais será esquecido! A perda trágica (talvez) desse filho, só nos vem mostrar quão indiferente pode ser a vida, avida de todos e a de um só casal, pois mesmo que um filho parta, o mundo não se compadece, a natureza não se compadece e a vida continua....Que dolorosas horas as desta mulher...!
 
 
 
 
 
 
 
 
Terminado o almoço assim como as dissertações sobre aquela estranha mãe (o autor do blogue veio a confirmar por outros viajantes que não resistiram a perguntar, aquela mulher estava em período de nojo, pela morte do filho há quatro meses antes) foi tempo de voltar ao "Moche", esperar que o grupo ficasse todo reunido e avançar na estrada porque o tempo não se compadece com dores, apenas com atrasos...
 
Ficava para trás Foz Côa, encerrando em si as dores próprias do interior do país tal como as dolorosas dores daquela estranha e inesquecível mulher, ficava para trás a Beira-Alta, as suas colinas e montanhas verdejantes, ficavam para trás os socalcos pejados de amendoeiras, de cerejeiras e muito, muito olival, em breve a paisagem mudaria radicalmente e o "Moche" apontava a frente para as terras do Alto-Douro vinhateiro, mantinham-se as paisagens de socalcos, mudava o bem que delas brota, a casta de puro porto!
 
 
Mais uma cantiga...
 
Lá vai, lá vai lá vai,
 a minha prima Joana
 Lá vai, lá vai, lá vai
 Vai direitinha p'ra cama.
 "Bom dia, bom dia, bom dia
 bom dia não é asneira,
 nós vamos todos felizes,
na excursão do Moreira."
 
Helena Brandão no seu melhor!
 
 
 
O adeus à paisagem beirã...
 
 
 
 
 
 
Para entrar o "Moche", na paisagem património cultural do Douro Vinhateiro!
 
 
Alto-Douro vinhateiro, ao fundo o Douro e o Pinhão!
 
 
 
 
 
 
 
 
A rota seguida pelo "Moche" e planeada pelo viajante-mor, cumpria-se à risca sem que para isso muitos riscos fossem necessários e basta dar um olhar mais aprofundado pelo mapa quando se estuda a viagem, para num gesto quase inconsciente apontar baterias, quem de Foz Côa sai, à maravilhosa zona do douro vinhateiro para se deter e contemplar uma dos locais mais belos deste nosso Portugal, o Pinhão, localidade e área geográfica que alberga as maiores e mais famosas quintas produtoras de Vinho do Porto, socalcos e mais socalcos a perder de vista em verdejantes e altas colinas pejadas desta casta única no mundo e que aqui veio encontrar as condições necessárias para que se transforme num dos grandes vinhos de renome mundial! Oporto Wine, como rotulam as garrafas desse néctar precioso, em língua inglesa, embora no entender deste que aqui escreve essas palavras somente deveriam escrito estar, em bom e sonante português - VINHO do PORTO!
 
 
Chegada ao Pinhão!
 
 
Atravessando a Ponte Metálica do Pinhão. Estrutura projectada por Gustave Eiffel!
 
 
Tempo de visita e de passear...
 
 
A vila do Pinhão é uma localidade incrível encrustrada entre gigantescas colinas em zona protegida, entre o rio Douro e o seu afluente que a esta terra dá nome, o rio Pinhão e que muito tem para oferecer ao viajante que a visita. Desde logo, principal atractivo para quem destas matérias como o viajante-mor gosta, uma estação de caminhos de ferro de uma beleza ímpar! Decorando as suas fachadas um conjunto magnífico de vinte e quatro painéis de azulejos (decretados património cultural da humanidade) executados em 1937 pela fábrica Aleluia, localizada que foi, na cidade de Aveiro ornamentam e engrandecem as belezas do local em seguida, o viajante mais atento, semi circulando a estação, poderá descer ao cais do Douro, onde se deterá estupefacto com tamanha beleza, quer das águas do rio, quer dos grandes barcos que sulcam em passeios turísticos o Douro, que pela singela beleza do local muito bem arranjado e composto! Tudo o resto é paisagem e pena é que nesta localidade o casario se amontoe anarquicamente, seria por certo bem melhor que o ordenamento do território aqui tivesse funcionado e caso o tivesse, o autor do blogue arriscaria a seguinte afirmação - Quase, quase um oásis! "Erros meus, má fortuna, amor ardente...", como versejava o grande poeta Camões...- Infelizmente a perfeição não existe, afirma o autor do blogue!
 
Pormenor de azulejo.
 
 
 
Idem...
 
 
Panorâmica da linha de caminho de ferro. Clique na imagem para ampliar.
 
 
 
 
Horas de diversão... - Vou às compras e já volto...(risos)
 
 
...mas horas também de aprender!
 
 
...de namorar...
 
...para a fotografia posar...
 
 
...e a quem ama, pelo tempo familiar que perde, o autor do blogue desculpas apresentar!
 
 
Foi o que se viveu no Pinhão!
 
 
 
Em que sentido circulas caminho de ferro nacional...!?!
 
 
Douro junto ao Pinhão. Clique na imagem para ampliar.
 
 
Barco-hotel atracado no Pinhão.
 
 
Cais do Pinhão.
 
Idem.
 
 
De um tonel se faz um botequim...
 
 
O "Encantos da Primavera" a esta hora entrava na sua recta final. Após uma hora para que desfrutassem dos encantos do Pinhão, os viajantes ocuparam os seus lugares no "Moche" e após uma despedida entusiasmada do amigo Paraíso de Sousa, que ali abandonava a presença de todos e seguia em direcção a Mirandela para ir buscar o seu automóvel ali estacionado no dia anterior, de um discurso inflamado que muito comoveu o autor do blogue, tecendo elogiosas palavras para com o organizador deste evento; dois homens reunidos pela amizade e respeito que os unem selaram a despedida com um abraço simples, mas fraterno! Caro Paraíso de Sousa, sabendo de antemão o difícil momento pessoal que atravessa jamais o autor deste blogue esquecerá a nobre atitude que teve para com ele ao não desistir de marcar presença neste evento! Leva-o, o autor do blogue, certamente no seu coração! Logo ali foi por todos saudado entusiasticamente!
 
Deixando para trás as belezas do Pinhão, assim como as do Douro, o "Moche" seguiu célere pela EN332 no sentido das altas terras de Sabrosa, atravessando de novo as colinas do Douro vinhateiro e seguindo o percurso menos habitual. São Martinho de Anta esperava numeroso grupo de viajantes, para uma visita ao túmulo do imortal Miguel Torga. Ali homenagem foi prestada a este grande vulto da literatura nacional e mundial por todos os viajantes que ousaram sair do interior do "Moche", sentir o friozinho atípico de Junho em terras altas de Trás-os-Montes e visitar um cemitério, facto pouco usual após um passeio tão agradável. O viajante-mor tem gostos requintados e ao invés de uma excursão à Régua como toda a gente faz, preferiu o sossego da aldeia e homenagear quem há muito já deveria ter sido homenageado. Que a Régua, terra bela e agradável também, perdoe o viajante que assim decidiu!
 
Como pedido por Torga, campa rasa sem símbolos, sem nada...simples!!!
 
 
Igreja de São Martinho de Anta. Sabrosa, Vila Real.
 
 
Era tempo e mais que tempo de voltar a casa! No quentinho interior do "Moche" e todos bem acondicionados, vieram de novo as cantorias, as anedotas e um poema lido pelo viajante-mor da autoria de Miguel Torga, pois estávamos em sua "casa". Era a despedida que seria longa.
 
Em plena autoestrada iniciaram-se as despedidas, os agradecimentos e com eles chegaram também as nuvens, depois de mal habituados que estavam os viajantes a quase dois dias de pleno sol no céu! Rosa Maria Franco, cada vez mais à vontade neste género de iniciativa, ao conversar com o autor do blogue, chamou a atenção para o facto de que estes passeios se estão a transformar em autênticas tertúlias móveis, tal os níveis de amizade, de cultura e de alegria que se viveram nestes dois dias de viagem pelo Portugal abandonado , pelo Portugal esquecido. E ali com a sua entoação fenomenal leu um poema por ela criado em viagem que muito surpreendeu o viajante-mor, aqui fica para memória futura:
 
Poema dedicatória.
 
Um sonhador!
 
Um sonhador...
É capaz de tudo!
Houve almas!
Houve corações!
E os indiferentes
Olham para ele
E agradecem
Porque entrelaça
Os sentimentos
 
Na vida,
Há momentos
Muito importantes!
O convívio
A cultura
São o bálsamo
Que suaviza
As agruras
Do dia-a-dia.
 
Um sonhador
Um pouco radical
Deixa no semelhante
O importante...
Partilha o que somos
Com paixão...
Com emoção!
Tudo o preocupa
O ambiente...
O seu blogue
é uma gota
No "oceano" da vida
Uma eco tertúlia
Deixa na memória
Dos seus utentes:
 
Vale a pena sonhar
Com o sonhador,
Um sonho
Ousado e rebelde!
 
O sonhador sonha
E nós sonhamos
Como o homem
No paleolítico
Esculpia a vida
Na pedra polida
E paisagens...
Maravilhosas!
Ficam guardadas
na memória
São momentos únicos
Tesouro para amar...
E a cultura transmitida
numa pedra polida!
Hoje defendida
Por tantas vias,
Prensa do sonhador
Para que lhe dê vida
Na sua forma.
 
E os poetas lembrados
Sonhadores contestados
Têm razão!
 
A força da arte
Está no revolucionário
Está acordado
Move montanhas
Procura o perdido
Para o encontrar!
 
Para o sonhador, Sérgio! 
 
O autor do blogue não ficou indiferente a todas estas palavras e comovido no seu pequeno e acanhado lugar de guia, o lugar de viajante-mor, agradeceu a Rosa Maria Franco a dedicatória assim como a amizade que lhe presta! Foi também tempo de o autor do blogue elogiar e agradecer todos os que contribuíram de uma forma ou de outra para que a viagem corresse bem e fosse participada, uma vez mais aqui fica publicamente o abraço à Ana Baptista pela dedicação a que se votou para este evento, assim como à Junta-de-Freguesia, encarnada nesta viagem na pessoa do Hélio Franco, a quem o autor do blogue agradece o apoio atribuído, ao aceitar inscrições para esta viagem e publicitá-la sem que nada fosse pedido em troca, ao Ezequiel Vale pela preocupação demonstrada durante os dois dias tendo em vista se tudo corria de feição!
 
Em Fafe...
 
 
Servido!?! (risos)
 
 
No final da viagem...águinha!!!!(risos)
 
 
No final uma palavra de agradecimento do autor deste blogue a todos os que participaram, e tiveram um comportamento exemplar, notável mesmo, dos mais velhos aos mais novos, sempre muito interessados em tudo o que viam e visitavam, dando mostras que em Lanheses existe uma população ávida por cultura e por conhecimento, assim se vê o elevado grau e qualidade das gentes de uma pequena aldeia encrustrada entre a Serra d´Arga e o rio Lima. Lanheses!
 
Uma palavra de carinho também para com o grupo de amigos que vai acompanhando o autor do blogue nas suas loucas viagens de paixão pelos destinos menos procurados, embora sempre também os mais belos, disso o leitor não tenha dúvidas; Esmeralda Agra, Lídia Baptista, Elsa, Filipe e Esmeralda, Miguel, Ana, Vera Marinho e "Rei" Artur simplesmente maravilhosos em algazarra com que durante dois dias nos brindaram e foram a alma e a alegria da viagem! Pena o autor do blogue não poder encharcar uns bons copos, viajando com vocês...para a próxima!
 
O autor do blogue vos deixa um abraço de agradecimento por merecer a Vossa amizade! Grato!
 
Por último o autor do blogue deixa um agradecimento...o agradecimento-mor...à sua esposa, pelo tempo de companhia que perde vendo o seu marido com a cabeça enfunada num computador, seja no blogue, seja estudando, seja projectando viagens e que sem a sua compreensão e tremenda bondade de espírito tal não seria possível!
Deveras grato! Paga-lhe o autor do blogue com um esmerado, infindo e alucinante amor, próprio de criatura alucinada...
 
 
Noite escura o "Moche" detinha-se junto ao edifício da Junta-de-Freguesia! O "Encantos da Primavera" estava no fim...
 
 
 
 
A maior dádiva que o viajante-mor poderia ter no final desta viagem, foi ter recebido o abraço terno de tantos viajantes na despedida, sim a despedida foi feita com abraços, agradecendo os viajantes ao viajante-mor, o fim-de-semana fenomenal e inesquecível que viveram...
 
A TODOS VOS LEVA NO CORAÇÃO! AGRADECIDO...
 
A traço negro todo o percurso efectuado durante o "Encantos da Primavera", quase 700km de puras paisagens.
 
 
A VIAGEM NÃO TERMINA NUNCA, SÓ O HOMEM TERMINA...E A PRÓXIMA VAI JÁ COMEÇAR!
 
ATÉ JÁ...
 
 
 
P.S. - AVISAM-SE TODOS OS INTERESSADOS QUE APARECEU PERDIDA NO AUTOCARRO UMA CARTEIRA. A QUEM FIZER PROVA DISSO, JUNTO DO AUTOR DESTE BLOGUE, A MESMA SERÁ DEVIDAMENTE DEVOLVIDA!

6 comentários:

  1. Como lanhesense fora da sua terra de infância e formação, acompanho estas crónicas com muita emoção e, esgotada de palavras, deixo registado o meu enorme apreço pelo que faz e divulga o autor do blogue. Imensamente grata. Helena Brandão( filha).

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    1. Helena é com muita honra que vejo (finalmente) um comentário teu neste blogue! Sinto-me como é óbvio, extremamente lisonjeado com as tuas palavras e para mim honra maior, é ser amigo de uma mãe maravilhosa como a tua, e de vocês os três, filhos: Helena, Carla e Ricardo!

      Quem sabe um dia não estarei aqui a escrever sobre as tremendas belezas de uma das mais fabulosas terras de Portugal, o arquipélago dos Açores! Quem sabe...

      Grato pelo comentário no blogue, espero que participes activamente do mesmo!

      Cps

      Sérgio

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  2. Lanheses, 14 de Junho de 2013
    Bom dia, caro amigo Sérgio.
    Depois de me ter despedido do grupo dos amigos em passeio ao Douro Internacional em Pinhão e de ter retomado o meu automóvel em Mirandela, dirigi-me ao Porto, onde fiquei retido, por motivos alheios a minha vontade até ontem. Tinha deixado todo o meu material informático em Lanheses e é por essa única razão que só hoje me é possível entrar em contacto consigo por este meio moderno.
    Devo duas palavras, ao Sérgio e a todo o grupo. A primeira, é para agradecer as palavras amigas de reconforto e de carinho que todos me dispensaram pela perda do meu irmão. Estou agradecido a todos. Obrigado! A segunda palavra, é para deixar aqui, mais uma vez, já que o fiz primeiramente em Pinhão, a minha impressão sobre o passeio que organizou ao Douro Internacional. Dou-lhe mais uma vez os meus parabéns pelo cuidado que teve em preparar até ao mais ínfimo pormenor todas as etapas do passeio. Ninguém explica como o Sérgio, certamente por falta de conhecimentos, todo o percurso, a par e passo: um monumento, uma paisagem, uma pedra, uma aldeia, uma vila, uma cidade....tudo! Obrigado. É um encanto passear no nosso Portugal (com quem Deus foi tão generoso..., no dizer do tal general francês), com amigos assim! Fiquei, mais uma vez feliz e realizado com esta viagem. Obrigado.
    Paraíso de Sousa.

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    1. Caro amigo, sinto-me extremamente agradecido pelas palavras elogiosas que profere para comigo! Não fiz mais que a minha obrigação ao conduzir sessenta almas pelo Portugal abandonado, mas mesmo assim tão belo, e não fizemos mais que a nossa obrigação, todos, ao saudar e acarinhar um amigo que enfrentando horas de dor, horas de grande perda, nos honrou com a sua presença, não desmarcando os compromissos que tinha, nomeadamente para com a minha pessoa!

      Jamais esquecerei a sua nobre atitude, generosa de quem somente possuiu um nobre carácter!

      É uma honra para mim merecer a sua amizade e espero vir de novo a trocar um grande e terno abraço, como o fizemos na hora da despedida, algures por aí, neste verde Portugal!

      Sérgio

      P.S. - Tenho para lhe entregar um DVD. Uma pequena brincadeira que ousei realizar e que ofereci de lembrança a todos os que participaram no "Encantos da Primavera". Quando estiver por Lanheses, avise-me por favor, para lho entregar!

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  3. Caro Sérgio Moreira:
    Faz hoje uma semana que participamos no 2º Passeio do SSVSA, em boa hora apelidado de "Encantos de Primavera". Com a Primavera em todo o seu esplendor, foi uma dádiva para os nossos olhos poder apreciar as belas paisagens de Trás-os-Montes. Paisagens e não só, pois este roteiro cultural incluiu também maravilhosos monumentos, vilas e cidades, com um belo museu pelo meio. Tudo muito bem explicadinho pelo Sérgio Moreira que mais uma vez não deixou os seus créditos por mãos alheias. De Lanheses a Vila Nova de Foz Côa (e vice versa), o "Viajante" pensava "Que diabo, não posso perder a próxima viagem!". E lá nos íamos sentindo todos na pele de Saramago - ou de Miguel Torga, que por aqui também andou, e nos "acompanhou" durante esta viagem, nos textos preparados pelo amigo Manuel Paraíso. No final uma sentida homenagem, que todos participaram em São Martinho de Anta.
    Caros amigos, se tiverem oportunidade não deixem de participar na próxima viagem. São bons momentos de convívio, e, claro, também de cultura!
    Ao amigo Sérgio um abraço e parabéns por mais esta iniciativa!
    Amaro Rocha

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    1. Caro Amaro, agradecido pelas palavras elogiosas para mim foi um prazer ter a sua companhia mais uma vez nestas aventuras, desta feita honrrando ainda mais e acrescido de responsabilidade de ter a companhia da sua esposa Alice e da linda filha Ana Alice.

      Abraço amigo

      Sérgio

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