quinta-feira, 28 de novembro de 2013

ZÉ RETRATISTA - ATÉ SEMPRE!

José Esteves...
 
Era um dos mais antigos na arte
de "à la minuta" fotografar
personagem icónica, porta estandarte,
de tempos que não mais vão voltar.
 
Ar austero em corpo escanzelado
facilmente um sorriso amigo largava
escondendo por breves minutos, o ar cansado,
que muitíssimas vezes carregava.
 
Pedalando sem cessar
estrada fora por essas freguesias
o gosto por fotografar
tudo retratando em fotografias.
 
Uma pose a rigor
um clique, "pum", já está,
um momento por favor
a fotografia pronta, fica já.
 
Homem de carácter admirável
de uma simplicidade tal
mais homem que muitos deste mundo incomensurável
e que estupidamente se julgam sem igual.
 
Não o veremos mais na estrada
na sua velha bicicleta pedalando
na mesma, a máquina pendurada,
nem mais o veremos fotografando.
 
Não o veremos mais vezes
barraca montada fotografando
não mais o veremos nas Festas de Lanheses
felizes rostos retratando.
 
As fotografias acabaram
as lentas pedaladas também
essas memórias ficaram
para serem lembradas por alguém.
 
Faleceu o alquimista
do retrato e da fotografia
paz à alma do Zé Retratista
até sempre amigo, até um dia!


Imagem da autoria de Augusto Portela, devidamente autorizada a sua publicação.
 
 
Lanheses fica mais pobre
quando ser como este desaparece
quando um ser tão simples assim morre
e à vista de todos não mais aparece...

O autor do blogue se vê obrigado
no blogue a cantar homem tal
simples, calmo, delicado
e que assim sendo simples, se torna agora imortal...
 
 
(do autor Sérgio Moreira)


5 comentários:

  1. Que Deus o recompense na eternidade com tudo que lhe faltou na Terra.
    Uma grande figura da nossa Terra que seja lembrado por quem tem obrigacao do o eternizar com uma exposicao do seu trabalho.Lanheses
    fica de facto mais pobre!
    Manuel Horacio Lima de Jesus (Agora de Sta.Maria De Geraz do Lima)

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  2. Linda homenagem ao Zé Retratista.
    Que descanse em paz!
    Um sincero bem-haja ao autor do blogue por nos fazer partilhar um poema
    tão bonito!

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  3. O meu último contacto com José Esteves aconteceu no passado mês de Outubro, na sua residência do lugar do Outeiro. Tinha lá duas fotos tiradas no domingo da festa do Senhor das Necessidades, seguindo uma tradição já com 19 anos de tirar um "retrato" na sua barraquinha montada no adro. Nesse dia de Outubro recebeu-me simpáticamente em sua casa e até conversou longamente comigo. Falou daquilo que lhe era mais querido: da fotografia "tradicional", dos seus fornecedores, dos quimicos necessários à revelação, das suas preciosas máquinas, ignorando sempre o avanço galopante da fotografia digital. Para quem ama a fotografia este homem era um artista, um conhecedor profundo do seu manuseamento, na sua forma mais tradicional. José Esteves falou também dos pequenos prazeres do dia-a-dia, do "rádio que ouvia, manhã bem cedo" e que era "a sua companhia". Um velho "rádio" que lhe ofereceram e que funcionava a pilhas carregadas por ele, através do dínamo da sua bicicleta, para não gastar energia eléctrica. Demonstrava estar bem informado, num mundo moderno, em constante transformação, e que parece já ignorar a sua arte. Por debaixo daquele corpo magro, com velhas roupas gastas pelo tempo, escondia-se um homem digno, conhecedor, e sempre à espera de ser escutado. A história da fotografia na nossa terra passa inevitávelmente por ele. Esteves era concerteza um homem cheio de carências, ajudado por muitos amigos, mas também um homem orgulhoso, igual a si próprio, que nunca quis abdicar da sua independência. Foi um resistente. Na arte e na vida!
    A melhor homenagem que lhe podemos prestar, seria sem dúvida que a Junta de Freguesia recolhesse as suas velhas máquinas, (creio que seria possível) criando um espaço próprio na sede da Junta para as expôr! É património valioso que todos nós lanhesenses gostariamos de preservar, tal como o património já recolhido, que está agora num local digno. Ficava também preservada a memória de José Esteves.
    Por tudo isto e por muito mais, a minha homenagem a este homem!
    Que descanse em paz!
    P.S.
    É de louvar a homenagem de Sérgio Moreira, com esta bonita poesia.
    Também Augusto Portela, com a imagem neste post e na sua loja no largo da Feira. Lindo!

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    1. Caro Amaro, agradecido pelas suas palavras para comigo!

      É de facto de lamentar que a condição humana seja esta e à semelhança de tudo neste universo, nascemos, vivemos e morremos. O Sr. José faleceu! Para mim uma das mais carismáticas figuras desta aldeia e sinto-me triste por esse simples facto, por essa simples condição natural!

      O poema é mais que merecido, dedicado a um homem sem igual que na sua simplicidade era mais homem que muitos dos homens do nosso burgo...

      Espero que a edilidade saiba aproveitar e devidamente colocar no ecomuseu o espólio deste antigo artista dos tempos modernos, caso haja também autorização familiar (presumo) para isso!

      Abraço amigo para si e para a sua família!

      Sérgio

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