sábado, 19 de abril de 2014

LEMBRANDO AQUELES PARA QUEM JÁ FOI PÁSCOA...

Tão longínquos vão aqueles tempos de menino em que a festividade da Páscoa era celebrada, por quem estas linhas escreve, de modo tão efusivo, agora, passados mais de trinta anos...

Desde a preparação para essa data, que começava na Meadela de então, no período da quaresma com todos os meninos tal como o autor do blogue, a desdobrarem-se, segundo o que os catequistas ensinavam na catequese, numa infinita prática de boas acções, desde visitas aos velhinhos da aldeia, cautela nos palavrões e ofensas verbais, no rigoroso cumprir dos dez mandamentos, até aos mais rigorosos, jejum (nunca praticado) e alguma abstinência de carnes; até que chegava a excitante noite de Sábado, e à meia-noite da mesma, para Domingo, se ouviam no adro da Igreja Paroquial, os foguetes e o som saído dos bombos tocados pelos homens do grupo de Zés P´reiras, prenúncio de que a festa da Páscoa iria começar, uma semana após da não menos festiva procissão, Meadela abaixo, desde o lugar do Calvário até à Igreja Paroquial em Domingo de Ramos, celebrando a entrada triunfal de Jesus montado num jumento na cidade das cidades, Jerusalém...

Como o autor do blogue vibrava e excitado ficava com estes acontecimentos e logo ali em pleno Domingo de Páscoa, chegava o folar, moedas e prendas para regalo do então jovem autor do blogue, doces e petiscos variados e principalmente, o alegre convívio entre membros da família e amigos que se passeavam de casa em casa, com a célebre desculpa de beijar a cruz, quando circulavam, era na mira de muito petisco e de muito copo de vinho, que mais lhes alegrasse ainda, já de si alegre espírito!

As horas, dias e anos foram passando e muito mudou! Desde logo a mentalidade e a forma de raciocinar do jovem autor do blogue, que ao mesmo tempo que ia lendo a Bíblia Sagrada, e envelhecendo ia, mais desacreditado ficava, naquilo que lia! As perguntas sucediam-se e as respostas, confusas, vagas e por vezes totalmente despropositadas e desprovidas de razão, mais ajudavam a descrer já quem de si descrente se sentia. Depois, com o tal passar das horas, dos dias e dos anos e com a consequente passagem dos tempos, onde foram muitos os que, queridos de quem aqui escreve, desapareceram do mundo dos vivos, aquela espécie de imaculada áurea que significava a festa da Páscoa, para o menino que aqui escreve, foi desaparecendo e hoje em dia, acompanhando também estes tempos modernos que se pautam pela descrença e descrédito, da e na, instituição católica, um desacreditado autor do blogue encara a tal festa senão como uma miragem no doce oceano da lembrança, em que tempos felizes se viveram, e muitas foram as "Páscoas" pautadas pelo inocente amor e não menos inocente carinho, de ter como companhia quem se amava e em festa ser feliz!

Hoje em dia, contrário ao passado, já são poucas as casas que recebem o compasso Pascal e ano após ano esta festa caminha para a extinção, ou então, dada a futura sobrevivência dos cultos religiosos, para o mero cumprir de formalismos no interior das igrejas, tal como acontece nas grandes cidades, perdendo-se aquela aura tão típica da Páscoa, quanto mais não seja, no norte do país, em que alegres bandos de rapazes e raparigas, como um dia o foi o autor do blogue, alegremente corriam atrás do compasso pascal...

São já muitos os desaparecidos que o autor do blogue presava em visitar por estes dias, talvez tão e somente por isso, a festa da Páscoa não seja o que em tempos foi, uma festa, sendo para o autor do blogue uma quadra que traz no bico algum amargo de boca, infeliz sinónimo de que este que aqui escreve está a envelhecer e a magia dos tempos de menino aos poucos está a desaparecer...

Nesta Páscoa o autor do blogue, lembra saudoso,  todos aqueles que deixaram o mundo dos vivos e povoam as suas mais doces lembranças! Lembra que para eles já foi Páscoa (para alguns deles cedo demais) e infelizmente, a ressurreição não aconteceu!

Ao amigo leitor que perdeu tempo e leu todo este desabafo assim como a todos os seguidores do blogue, amigos e muito principalmente, familiares, o autor do blogue sincero, deixa um voto de:


Páscoa muito feliz!

Sérgio Moreira

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