terça-feira, 24 de novembro de 2015

OS DIAS FELIZES - Capitulo I

Ver tópico do dia 18 de Abril de 2015!!!  

http://dovaledaserradarga.blogspot.com/2015/04/os-dias-felizes-prefacio.html

Assim começa...

Posso afirmar que tudo começou nos idos de setenta, mais precisamente no longínquo e saudoso ido de setenta e quatro, a nove de Setembro, uma preguiçosa segunda-feira, às seis horas e vinte minutos da madrugada, mais segundo menos segundo, quando mais um nado-vivo berrou a plenos pulmões (ainda não conspurcados pelas maleitas inerentes ao consumo de cigarros) ao sentir a primeira de biliões de inspirações de mililitros de O2, num quarto da maternidade de Monserrate, entretanto, desactivada, naquele que era então o hospital da cidade de Viana do Castelo e hoje em dia, nos dias dos tempos modernos, por muitos carinhosamente apelidado de "Hospital Velho"!

Menina dos olhos para quatro olhos do jovem casal, havia que lhe decidir o nome, que há muito decidido estava. Seria Sérgio o primeiro nome, o segundo nome lhe emprestaria o seu pai, pelos tempos e tempos enquanto fosse, ou seja, ou venha a ser vivo! Por descendência e linhagem àquele pobre nado-vivo, que berrava de modo incessante naqueles primeiros minutos de vida, Loureiro e Moreira lhe caberiam em sorte, como os dois últimos nomes, reservados para sempre no grupo de nomes e palavras que se encontram referidos como apelido, ou, apelidos.

A apresentação está feita! O nome já o sabe o leitor! Não sabe o resto, mas em breve saberá, se é do seu interesse saber...

A primeira viagem foi feita da maternidade do hospital para casa, de carro, sem cadeirinha e cinto de segurança, nada dessas modernices e paneleirices como as de agora, uma curta distância de dois mil metros, dois quilómetros, para quem ouse pensar que dois mil metros é muito, para a aldeia (nesses tempos) da Meadela, mais precisamente para o Lugar da Igreja, quando nestas aldeias ainda imperava a nomenclatura por lugares, e aí para a Rua da Quinta do Bispo de Angola, Bispo este que o pequeno nado-vivo de forte pulmão, nunca veio a conhecer, mas com quem conviveu toda uma vida, sem que algum dia, repita-se, tenha visto tal personalidade, apesar de por milhares de vezes se ter questionado quem teria sido tal personagem. A rua era essa, ligava a Igreja Paroquial a outros lugares e ruelas da aldeia e ligava também, a já referida igreja, ao cemitério, que dada a localização frontal à moradia dos seus progenitores, fez desde muito cedo, com que este nado-vivo de forte pulmão, convivesse de muito perto com o antónimo da vida, a morte! 

Sobre os primeiros dias e semanas pouco haverá a relatar, talvez as sôfregas mamadas nos seios da progenitora, alguns ou, muitos berros e choros, dia e noite fora, alguns também, sorrisos para os familiares e progenitores: - Tão lindo e olha, está a sorrir... - Frases típicas de quem nada sabe dizer à cerca de um bebé nem tão pouco saiba que raio de palavra lhe dirigir, uma vez que a pobre criatura , é dado assente, nada entende!

Pouco importa!

Os dias, semanas, meses e anos foram passando e o nado-vivo de forte pulmão se foi transformando num miúdo de longos cabelos loiros, mas, indubitavelmente em todas as histórias ocorre sempre um mas, a saúde essa se foi tornando débil, débil ao ponto de surgirem complicações graves e numa noite de desespero para o jovem casal de progenitores, não fosse no antigo quartel BC9 estar abrigado um militar com tipo de sangue igual ao seu, o tal nado-vivo de forte pulmão, agora débil, teria feito cedo demais a viagem da Igreja para o Cemitério Paroquial, com direito a passagem e vista para a moradia dos seus progenitores em plena Rua da Quinta do Bispo de Angola. Tal não aconteceu! O militar, que nunca mais viu, ou alguma vez conheceu, apesar de ter sido essa a sua vontade, salvou a vida ao pobre nado-vivo, que em vez da negra e escura viagem Igreja-Cemitério, continuou na colorida e luminosa viagem que é a vida. 
Pelo meio fica um baptizado realizado à pressa, pois as incertezas eram muitas, um menu composto por bifes e batatas fritas regado com preocupações e ansiedades próprias dos jovens casais quando algo com a prole, por menor que seja, não vai bem!

A vida dos bebés é uma seca, berço-mama/mama-berço e criminosamente o nosso cérebro não consegue recordar o acontecido em anos e anos da vida de cada um! Devíamos antes ser formatados como as ovelhas que ao fim de cinco minutos de vida, já circulam pelos campo pela própria pata seguindo a sua progenitora. Falta saber se as mesmas lembram algo dos seus primeiros minutos e anos de vida, as que duram anos!
Se de vida total este nado-vivo já quarenta e um anos viveu, conscientemente, viveu para aí uns trinta e seis! 

Eis a nossa natureza, nada nem ninguém a consegue alterar.

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