segunda-feira, 14 de novembro de 2016

UM ÓSCAR PELO DERRUBE DO NINHO DE CEGONHA-BRANCA!

Bico comprido, avermelhado, olhos negros, enormes, belos, lançando não menos belo olhar sobre o céu que a rodeia na ânsia de ver no horizonte os contornos dos telhados das moradias e das verdes paisagens de Lanheses, o rio Lima, já tão familiar, o contorno dos areais e o serpentear do leito; tudo lhe é familiar e, eis que após tremenda e longa viagem, cansada, olhando para o lado e comunicando com o seu par, daquele jeito que só os animais irracionais conseguem comunicar, e o ser humano nunca irá entender, avistam a chaminé que lhe tem dado guarida e servido de poiso para prolongar a prole, naquele ninho por eles (casal) construído à custa de muitas idas e voltas à veiga em demanda de ramos e pequenos galhos de amieiros e carvalhos tombados pelo chão. 

Mas, algo de estranho se passa. Aquela chaminé será a mesma? Onde está o ninho? E pousar no seu cimo como é possível com estes objectos pontiagudos? Não é!

Estafadas da longa viagem, macho e fêmea pousam sobre o telhado, descansando de tão longo trajecto voado e sem se aperceberem que o ser humano, ou talvez até, apercebendo-se sim, lhes pregou mais uma partida! 

O ninho já ali não está! Há que procurar outro local para prolongar a prole e a espécie, a natureza não se compadece com as questiúnculas do ser humano e, no instinto destas aves, assim pela natureza projectado, a ânsia de voltar a nidificar e aumentar a prole não definha. 

Há que procurar, à semelhança das "primas" que tinham ninho construído mais a Este sobre um dos postes da ETAR, e também não o encontraram na volta de mais uma viagem, outro local para nidificar.

Asas belas bem abertas, um gloterar bem sonoro sobre o telhado, com os bicos a baterem com toda a força, lá levantam voo no céu em busca de novo poiso. 
Talvez não saibam, mas o autor do blogue aconselha a que seja, esse poiso, bem distante de humano olhar...













Deixando as fábulas para outras ocasiões e voltando ao infinitamente triste mundo da realidade, o certo é que por motivos economicistas, tendo em vista a exploração de serviços, comércio local e até da prestação de serviços, os proprietários do prédio em questão ou melhor afirmando, da chaminé em questão, decidiram que o derrube do ninho de cegonhas brancas, por motivos vários, um deles segundo fonte particular, o do lixo que a actividade destes animais acarretava para aquele espaço, seria inadiável. Munidos certamente com a respectiva autorização do ICN- INSTITUO DE CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, o ninho já terá, à data desta escrita, sido retirado do local onde estava, naquela horripilante chaminé, que por alguns anos ganhou alguma alegria, cor e beleza precisamente por causa destas maravilhosas criaturas aladas que ali decidiram construir moradia e berçário para gerações vindouras de outras não menos belas criaturas!

Coincidência ou não com o motivo apresentado para o derrube do ninho, o lixo que fazem; a população de cegonha-branca em Portugal tem vindo a aumentar rapidamente por dois motivos essenciais: em primeiro o aumento da população de lagostins (autêntica praga e delicioso petisco para esta ave) e em segundo lugar o aumento de lixeiras e de zonas de lixo, onde estas aves, que se adaptam perfeitamente a certas condições ambientais, encontram alimento em abundância e assim evitam até em realizar a penosa e perigosa migração até terras de África. Com a ajuda da actividade humana, estes seres estão até a deixar de migrar, pois em Portugal encontram alimento e ambiente para restarem durante todo o ano. E se a espécie nos idos de oitenta se viu, em território nacional, drasticamente diminuída sem ao certo se saber o motivo, agora floresce e aumenta a cada contagem anual de ninhos, muito pelas medidas de protecção das quais foi alvo, mas, fundamentalmente muito pela acção do ser humano. 

As alterações climáticas também o fazem sentir e assim são possíveis de se observar ninhos de cegonha-branca, no nosso distrito e no distrito de Braga, quando há vinte, trinta anos, quem quisesse ver cegonhas-brancas, só as veria depois de passar Aveiro e a sua ria e, mais pelo sul do país, onde perduram os climas mais amenos.

Em Lanheses acontece precisamente o contrário ao restante território nacional! 
Se está certo ou está errado, não compete ao autor do blogue julgar e criticar outros, na sua opinião, o derrube deste ninho é uma tremenda tristeza e uma machadada na beleza da avifauna lanhesense, quando mais apadrinhado (ao que parece ser) pelo ICN, por razões que o mesmo autor não entende. Se ali existisse uma rede de alta tensão que pusesse em perigo a vida das aves, ou até a ocorrência das aves ali levantasse entraves à actividade económica, o que não lhe parece, ou pusesse (até também) em perigo a vida de pessoas e seus bens, talvez aí o autor do blogue encontrasse justificação, factos que não lhe parecem de todo ocorrer! 
Em conversa com as mais variadas pessoas, o autor do blogue sempre afirma para que não se esqueçam que a Cegonha-branca não é endémica desta zona geográfica, mas por outro lado também o diz, se estão cá, então porque não apreciar toda a sua beleza e magnanimidade enquanto ave!?!

Retire-se o ninho!

Assim vai este planeta, que já foi mais azul, e se a triste vida de cada um, já dominada pelo factor numerário/economia/dinheiro, é uma vida vivida de ilusões (não se iludam, porque todos temos um fim e quando esse fim chegar, tudo acaba, nada levamos para o outro mundo, até porque precisamente, esse outro mundo não existe), mais triste se torna quando ocorrem estas situações. Se por um enorme acaso natural nos dão a possibilidade de apreciarmos as belas coisas que a natureza e a vida nos oferecem, porque não aproveitarmos e desfrutá-los enquanto vivos? 
Lanheses (metaforizada), aldeia incluída no rol de aldeias apostadas na vanguarda da destruição daquilo que de belo e de natural tem, ou ocorre, merecia (por vezes) no entender do autor do blogue, um Óscar! Salvem-se honrosas excepções, excluindo esta, claro está!

Vão-se embora as Cegonhas-brancas, fiquem as zonas industriais, e os camiões a toda a hora, e o lixo, e os lagostins, e o comércio, e a bola, e os tiros para o ar às quintas, domingos e feriados, e o diz-que-diz...


PORQUE NÃO VIVER A VIDA APROVEITANDO AQUILO QUE DE BELO (POR VEZES) A NATUREZA NOS OFERECE?...

A palavra - conciliar - diz-lhe algo, amigo(a) leitor(a)?


7 comentários:

  1. nao estou ao corrente como se passou mas noutras sonas fizeram com que os ninhos continuaçem

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  2. Subscrevo inteiramente...e encorajo o autor a continuar a escrever sempre o que pensa, mesmo que por vezes o possa colocar numa posição menos cómoda. Pois, é com certeza com esta postura que vamos evoluindo no sentido de alcançarmos um mundo cada vez mais equilibrado para todos(os seres vivos)!... Bem-haja!!

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  3. Concordo plenamente com Sérgio Moreira.
    Soluções menos radicais existem sempre. Basta haver boa vontade. As cegonhas, tão admiradas por todos, incluindo forasteiros que por aqui passavam, não mereciam este desfecho. O largo da Feira fica mais pobre!
    É pena não haver outro tipo de consciência por parte da nossa gente. Todos ganharíamos com isso!
    Cumprimentos ao Sérgio.

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    1. Abraço meu caro amigo. Infelizmente nesta situação, penso, foi tomada a mais simples das medidas quando outras mais complexas se poderiam ter equacionado, no seu caso, caro Amaro, de agora em diante quando vier à porta do estabelecimento onde trabalha, verá dois toscos cones, no topo daquel não menos tosca chaminé, ao invés do espectáculo que é a natureza.

      Muito o lamento

      Cumprimentos para todos em casa e um beijinho especial à senhora sua mãe.

      Sérgio

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  4. Serà, que quem gosta de ver o ninho ... o queria na sua propria chaminé ,,, eu nao.

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